"Escolas faltando água, professores(as) e sem estrutura mínima “ acolhendo” os estudantes"
Por Prof. Ygor Barros*
A notícia de um jovem de apenas 13 anos que esfaqueou uma professora, chocou o Brasil, não obstante, surgem novos casos de violência no ambiente escolar. Além disso, a folha de São Paulo divulgou uma pesquisa de cientistas da Unicamp e UNESP, que desde de agosto de 2022, o Brasil tem em média um ataque por mês nas escolas. Ao que parece, além de toda precariedade da educação pública brasileira, a saúde mental surge como um novo tema acalorado no congresso nacional, na academia e entre as e os professores. Este texto é apenas uma impressão de um professor que está no “chão da escola”, não pretendo ser dono da verdade e nem trazer dados científicos, com pesquisas qualitativas e quantitativas, reafirmando o que escrevi antes: apenas uma impressão, para gerar debates, reflexões, dialética... acerca do tema da saúde mental das e dos estudantes na escola.
A LDB foi um marco para educação brasileira, um conjunto de leis que trouxe uma educação mais crítica, democrática, participativa e cidadã para as escolas. Porém, nas duas últimas décadas, grupos empresariais, como a "Fundação Lemann", "Todos pela Educação", entre outros, vem tendo um papel decisivo na política pública educacional do país, sobretudo na base curricular, as escolas em tempo integral são arquitetadas por tais grupos, que colocam uma nova dinâmica no ambiente escolar, em que este funciona sob uma lógica de uma empresa, com metas inatingíveis; provas em demasia (semanal); intensidade de conteúdos e disciplinas em que o indivíduo é o centro do próprio sucesso, ou seja, não existe sistema social e econômico excludente, se você “ não conseguiu chegar no topo”, a culpa é exclusivamente sua. Esse conjunto de práticas, transforma o ambiente escolar cansativo, culpabiliza os estudantes por supostos fracassos e deteriora a saúde mental de toda a comunidade escolar. Não precisa citar o sociólogo Pierre Bourdieu para saber que tais ideias são falaciosas, com certeza as e os educadores sabem quão patético é este “ novo modelo”, mas raramente somos ouvidos
“Mas professor, você está sendo taxativo ao fazer tais afirmações”. Sim, estou, no inicio do texto escrevi que são as minhas impressões, mais do que isso, essas afirmações vem não só de minha vivência escolar, bem como a escuta das/dos estudantes e de professores. Acredito que o MEC (se o lobby do "Todos pela Educação" e "Fundação Lemman" permitir), deva aproveitar o ensejo dá discussão do novo ensino médio, para fazer pesquisas acerca do novo modelo educacional/ curricular, leia – se , BNCC, Novo ensino médio e as “ novas escolas integrais” e seu impacto na saúde mental de estudantes e toda comunidade escolar.
Aqui iremos desenvolver um tópico acerca da escola em tempo integral. Governadores, prefeitos e gestores anunciam com polpa a expansão de tais escolas. É mister destacar que o que temos hoje na maior parte da rede pública de ensino não são escolas integrais e sim de tempo integral e conteúdo expandido, pois uma escola plenamente integral garante aos estudantes uma educação holística, em que a comunidade escolar é vista e atendida sob todos os aspectos: político, crítico, espiritual e etc. O que existe hoje é a expansão de escolas integrais sem nenhuma estrutura, em que estudantes, ficam assistindo aula das 7h30 da manhã até às 17h00. Qual a inovação em assistir aula o dia todo? Sem atividades culturais, esportivas, lúdicas? Os governos estaduais estão expandido as escolas em tempo integral sem nenhum critério e sem ao menos reforma – las. Ou seja, temos escolas faltando água, professor e sem estrutura mínima “ acolhendo” os estudantes nos dois turnos e com uma cobrança absurda sobre professores e toda equipe pedagógica, pois, como dito antes, estão transformando a escola em uma empresa, com burocracias excessivas e metas inatingíveis, e não precisa ser especialista para saber que todo esse caldeirão gera um ambiente de adoecimento de estudantes e toda equipe escolar.
A Deputada Federal Tabata Amaral, tem se debruçado sobre o projeto de lei que trata da saúde mental no ambiente escolar, porém, a nosso ver, é contraditório bradar em defesa da saúde mental dos estudantes e apoiar projetos que transforma o ambiente escolar numa empresa. O tema da saúde mental é complexo, sobretudo nas escolas, mas algumas medidas podem minimizar o problema, a exemplo de concursos para psicólogos e assistentes sociais, assim como a escuta de professores e toda comunidade escolar e a defesa dos princípios que norteiam a LDB: valorização da diversidade humana, gestão democrática, entre outros. Além do que, a solidariedade em detrimento da fomentação ao hiper individualismo. Ou seja, priorizar a educação como direito fundamental e humano, sem torna – lá uma mercadoria! Esse seria os primeiros passos!
Professor de História*
Edição: Polyanna Gomes