Topázio é multiartista indígena que retrata a vida de seu povo desde a música até as artes plásticas
Por Hiago Trindade
Pelo título que você acabou de ler – parte dele escrito na língua Kipeá dzubukuá, do povo Karirí, já está evidente que, neste mês, nossa coluna irá tratar sobre arte indígena. Mas, antes de qualquer coisa, caro(a) leitor(a), gostaria de convidá-lo(a) a abandonar as ideias que, em geral, construímos relacionando a arte indígena aos cocares, as cerâmicas, as pinturas corporais e a outros tantos elementos que, sem dúvidas, configuram expressões artísticas da maior relevância, contudo, não expressam a totalidade das criações que os povos indígenas vem nos oferecendo no passar dos tempos…
Agora, gostaria de convidá-los(as) a pensar em novas possibilidades: no(a) indígena que manipula uma câmera de alta resolução para capturar imagens, naquele(a) que está dirigindo longas e curtas-metragens, nos(as) que produzem músicas para diversos circuitos do país… Vocês já ouviram falar em Paulo Desana e suas fotografias luminescentes que, apoiadas nos corpos de seus semelhantes conta a história de variadas etnias? Conhecem Daiara Tukana? A artista que produziu o maior mural de arte indígena do mundo, em Belo Horizonte? Os exemplos poderiam se estender ainda mais, mas creio que eles já são suficientes para percebermos algo: o que denominamos como “arte indígena” tem uma significação, um potencial e um alcance sócio-cultural muito mais amplo do que, via de regra, imaginamos.
Na Paraíba, Topázio Kariri (@topaziokariri) é um desses artistas indígenas que articula a história de seu povo ao seu desenvolvimento artístico. Ele caminha entre o “tradicional” e as novas expressões contemporâneas da arte, entendo esse movimento entre o “velho” e o “novo”, como um fluxo constante de mergulhar na história para absorver referências daquilo que foi produzido pelas etnias indígenas ao longo dos períodos e, assim, expressar-se no tempo presente, transmitindo ideias e valores para a sociedade. Em suas palavras, esse mergulho “É importante para que a gente entenda de onde viemos. E de onde viemos a gente entende porque estamos aqui e para onde podemos ir”.
Como sabemos, a arte tem atrelada a si uma função política que Topázio reivindica muito bem em todas as áreas pelas quais circula. Exemplo disso é a obra Jurema que ganhou materialidade na Ilha do Bispo, região de uma das zonas periféricas de João Pessoa. Fruto da iniciativa do movimento “Nós por Nós” e feita em parceria com João Carcará Karirí (seu parente), a indígena ganha colore as paredes daquele espaço para dar vida a personagem Jurema, que representa uma planta e uma entidade sagrada para o povo Karirí. Ao discorrer sobre a obra, Topázio lembra que a imagem se ergue na terra do povo Tabajara e conclui: É importante a gente relembrar que a Paraíba é terra indígena, que o Brasil é terra indígena e é através do graffiti que eu busco levar essas informações para sociedade e para o meio urbano e reivindicar também esses espaços como forma de protesto”.
Além do graffiti, a produção de Topázio Karirí Aramurú se inscreve em diversas outras formas de linguagens, desde a dança de rua até as artes plásticas. Assim, suas construções artísticas ganham vida em diferentes espaços, retratando aspectos sociais e políticos da maior relevância para toda a sociedade e levantando questionamentos sobre os quais precisamos refletir.
Por isso, é extremamente importante que, para ser vista, apreciada e sentida, a arte indígena possa ecoar pelos mais diferentes ambientes: exposições, galerias, mostras, bienais dentre outros tantos lugares que lhes foram historicamente negados. Inclusive, aos(às) interessados(as), o Centro Cultural do Banco do Nordeste, em Sousa-PB, estará com a oficina de formação artística: “Instrumento de cura – maracá/buiubú”. A oficina ocorrerá dia 14/04 às 14h no auditório do CCBNB e constitui uma ótima oportunidade para os que desejam aproximar-se do tema e dialogar acerca do ativismo indígena.
SOBRE O ARTISTA
Topázio Gabriel Gondim de Morais (1984 –) herda de sua mãe a descendência do povo Karirí Aramurú aldeamento que outrora existiu na região de Alagoa Grande – PB. O Multi-artista, transita pelas diversas expressões da arte, desde a música até as artes plásticas. Faz de suas obras ferramentas para provocar o questionamento social e político da realidade, com vistas a transformá-la, em busca da concretização de espaços do bem viver coletivo.
*Hiago Trindade é Doutor em Serviço Social pela UFRJ e estudante do curso de Bacharelado em Arte e Mídia pela UFCG
Edição: Polyanna Gomes