Paraíba

Coluna

A arte movida pelos sentimentos: o surrealismo do artista patoense 'O Brasileiro'

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Frankleyson da Silva Brasileiro é um artista contemporâneo natural de Patos/PB - Arquivo Pessoal
"Eu gosto de mexer com emoções que geralmente as pessoas tendem a camuflar", afirma o artista

Por Hiago Trindade*

Nos últimos dias, venho tendo vários sonhos. Alguns deles são mais “comuns”, constituídos a partir de cenas do cotidiano. Outros são mais raros, pois protagonizados por figuras esquisitas e ambientados em contextos improváveis ou mesmo impossíveis. Todos esses sonhos me fizeram recordar que, no século XX, um conjunto de artistas inspirados (as) nas ideias oriundas da psicanálise – tendo Freud como seu principal representante, construiu o movimento surrealista que, basicamente, caracterizava-se por uma tentativa de dar vazão aos pensamentos e sentimentos produzidos pelo inconsciente, sem a necessidade de reforçar um certo rigor ou lógica.

Ao rememorar o movimento surrealista, me reportei à obra de um artista contemporâneo, radicado no sertão paraibano: Frankleyson Brasileiro (@obrasileiro1). Natural de Patos/PB, desde a infância o artista convivia cercado pelos materiais de pintura e, ao passo em que crescia, o desejo pela arte foi se reforçando até que, em 2018, aproximou-se e aperfeiçoou suas técnicas com a tinta a óleo, fator decisivo para impulsionar suas produções. Desde então, vem participando de diversas exposições, além de ministrar oficinas e cursos. 

O Brasileiro, coloca-se na vivência de um processo de experimentação constante das técnicas, estilos e movimentos artísticos. Ainda que sua maior demanda de trabalho esteja relacionada, sobretudo, com a construção de pinturas de retrato a óleo a partir de uma perspectiva realista, as obras surrealistas também fazem parte do repertório do artista e têm, para ele, um significado especial. Ao refletir acerca disso, enfatiza: “Eu gosto de mexer com emoções que geralmente as pessoas tendem a camuflar, a cimentar. As pessoas não gostam de lidar com coisas que venham a trazer reflexões que mexam em lugares profundos delas...”

Em algumas de suas pinturas inspiradas nesse movimento, destacam-se personagens de estilo e forma marcantes: pela coloração de seus corpos, pelo formato de suas cabeças, pelos elementos que compõem os planos do espaço. Um exemplo bastante interessante nesse sentido é o quadro “Noturna”. Na tela, a escuridão da noite e os galhos escuros e sombrios se contrastam com a luz que ilumina vivamente a personagem; o frio à que o ambiente noturno nos reporta é atenuado pela fumaça que saí da boca da figura, a qual, inclusive, nos possibilita imaginar um novo ser, a interagir com a personagem principal. Além disso, os olhos vivos de “Noturna” chamam especial atenção, como a convidar-nos a enxergar mais além da aparência imediata.


Quadro "Noturna" - Por Frankleyson Brasileiro / Arquivo Pessoal

Nas palavras do próprio artista: “[…] a imagem se constrói a partir de traços elegantes, sensuais e encantadores, assim como a noite é. Os olhos marcantes e brilhantes convidam o espectador a descobrir os mistérios que permeiam as “entrelinhas” da pintura. O que não se vê, neste quadro, é mais potente do que aquilo que se observa”.

O Brasileiro tem uma lucidez na compreensão da realidade, na maneira como se relaciona com a arte e nas potencialidades que pode explorar nesse universo e, por isso, a poética de sua produção é intensa e, ao mesmo tempo, sublime. Movido a desafios, nos últimos tempos o artista tem se inquietado para compreender as expressões mais contemporâneas da arte, ampliado seu horizonte de estudo e atuação levando-o a aproximar-se de expressões incomuns para o seu repertório atual.

Que o Brasileiro possa seguir brindando-nos com mais e mais arte, provocando-nos, deixando-nos inquietos(as) e curiosos(as) com os significados e reflexões que atravessam nossas vidas, afinal, como destacou André Breton: “não é o medo da loucura que nos vai obrigar a hastear a meio-pau a bandeira da imaginação”. 

Sobre o artista
Frankleyson da Silva Brasileiro (1997 - ) é natural de Patos-PB. Configura-se como um artista visual e graduando no curso de licenciatura em Artes Visuais. Atua profissionalmente desenvolvendo trabalhos artísticos de pintura a óleo sobre tela, ilustrações em aquarela sobre papel, lettering, maquiagens artísticas, oficinas de iniciação à pintura e aulas de pintura em tela em Organizações Não Governamentais. Versando entre técnicas de pintura influenciada pelos movimentos Barroco, Renascentista, Impressionista e Surrealista, o jovem pintor contemporâneo atua profissionalmente desde 2018, trabalhando exclusivamente com arte após sua formação acadêmica em Serviço Social (UNIFIP, 2019).



*Hiago Trindade é Doutor em Serviço Social pela UFRJ e estudante do curso de Bacharelado em Arte e Mídia pela UFCG

Edição: Polyanna Gomes