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Filme Apneia: o retrato de um Brasil sufocado

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Filme paraibano Apneia - Cartaz Divulgação
“Apneia é um filme sobre o sufoco em que o Brasil esteve imerso nos últimos anos”

Por Hiago Trindade

O filme Apneia, dirigido por Nathan Cirino (@nathancirino) e por Carol Torquato Ledo estreou em meados de 2022 e, desde então, vem sendo exibido em diversos festivais, obtendo importantes premiações, a exemplo do 17º Festival Comunicurtas de Audiovisual – Campina Grande, PB (2022), 7º Indian World Film Festival, International Streaming Awards 2023 (Itália – Online), além do 17º Festival de Taguatinga de Cinema – 2023 (Taguatinga, DF).

O motivo de tantas premiações está na qualidade técnica e estética que Nathan e Carol, acompanhados de sua equipe de produção/realização, nos apresentam na obra. As sensações de sufoco e desespero que perseguem os (as) personagens ao longo de toda a trama nos impacta, convidando-nos a mergulhar em memórias de nossas experiências individuais, a partir dos registros armazenados em nosso imaginário social. Mas, esse sentimento de caráter mais individual se mescla com as lembranças coletivas do que vivemos recentemente enquanto nação.

Para mim, Apneia é um filme sobre o sufoco em que o Brasil esteve imerso nos últimos anos. A agonia dos(as) personagens em busca de ar, me reporta imediatamente a situação do descaso que, no contexto de uma pandemia marcada por infecções respiratórias graves (covid-19), foi provocado pela falta de oxigênio nos hospitais, impedindo o atendimento de diversos homens e mulheres que agonizavam nos corredores, nos ambulatórios e, às vezes, até mesmo nas ruas.


CENAS DO FILME APNEIA / Divulgação

Também me conduz a lembrança do caso de Genivaldo de Jesus Santos, impedido de respirar pela força policial de Sergipe que, agindo violentamente contra aquele indivíduo, trancafiou-o na mala da viatura enquanto o gás lacrimogêneo dividia com ele o mesmo espaço. Consta no resultado de sua autópsia: “morte por asfixia”. 

Além disso, em nossas terras, pararam de respirar, a um só tempo, dezenas de pessoas no complexo do alemão, vítimas de uma das maiores chacinas já registradas no estado do Rio de Janeiro, em julho de 2022.

A apneia está presente, ainda, nos (as) milhares de trabalhadores(as) desempregados(as), sufocados(as) pela fome, engolidos(as) pelas dívidas e submersos(as) em uma ausência de futuridade desalentadora. 

Mas, o final do curta (assim como a história cotidianamente construída por homens e mulheres), está em aberto. Num momento de alívio, os(as) personagens aparecem inseridos(as) num mesmo ambiente. Talvez esteja aí o mote para que, reconhecendo-se parte de uma classe, marchem na direção de um novo tempo, em que o ar da liberdade encha os nossos pulmões, para então respirarmos aliviados(as).

E aí, se interessou pelo curta? Tenho uma boa notícia para você: até o dia 16 de maio, ele poderá ser visto neste link.  Nesse mesmo link, você também poderá votar em Apneia, que concorre no 17° Festival Taguá de Cinema. 

Sobre os diretores

Nathan Cirino é professor no curso de Arte e Mídia, da Universidade Federal de Campina Grande, PB, atuando também como realizador de audiovisual e roteirista. Dirigiu e roteirizou os curtas Lamúria (2011), Amador (2013), O que resta (2021) e Apneia (2022), assim como também assina codireção e roteiro do longa-metragem documentário Madame (2019), uma coprodução Globo News/Globo Filmes, Canhota filmes e Maria Fita. Tem mestrado e doutorado estudando narrativas e novas tecnologias pela Universidade Federal de Pernambuco, área esta à qual dedica seus estudos acadêmicos.

Carol Torquato Ledo é estreante na Direção Cinematográfica com os filmes Apneia (2022 - fic) e Seu Torquato (2022 - doc), tendo antes disso feito carreira na Direção de Produção e Produção Executiva de diversos filmes paraibanos, a exemplo do longa Tudo que Deus Criou (Dir. André da Costa Pinto). Atuou recentemente na equipe de produção da série Cangaço Novo, realizada pela Amazon entre 2021 e 2022 no interior da Paraíba.


*Hiago Trindade é Doutor em Serviço Social pela UFRJ e estudante do curso de Bacharelado em Arte e Mídia pela UFCG

Edição: Polyanna Gomes