Paraíba

CIÊNCIA EM BARES

Festival Pint of Science começa nesta terça (23) e discute atuação científica fora da Academia

Confira a entrevista com uma das organizadoras do evento, a cientista e cordelista, Cíntia Moreira Lima

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Cientista e Cordelista, Cíntia Moreira Lima, organizadora do Pint of Science 2023, em João Pessoa. - Divulgação

Com o lema ‘Um Brinde à Ciência’, o festival Pint of Science Brasil é um evento nascido na Inglaterra em 2012 e que em 2023 ocorrerá em 20 capitais brasileiras e Distrito Federal nos próximos dias 23 e 24 de maio. O objetivo é levar para fora do ambiente acadêmico o debate em torno de temas científicos. Empreendedorismo feminino, cannabis medicinal e inteligência artificial são temas do primeiro dia do Pint of Science, evento que vai discutir ciência em bares de João Pessoa nos próximos dias 23 e 24 de maio com entrada gratuita.

Todas as temáticas vão estar reunidas na Mesa Redonda denominada ‘A atuação científica fora do ambiente acadêmico’. As palestras e debates contarão com a participação de quatro cientistas no bar Porks, no Bessa, e será aberta às 19h com a declamação de cordel Maconha é Medicinal, pelo cordelista e autor Fabiano Gumier Costa. 


Fabiano Gumier, cordelista. / Divulgação

A Cannabis medicinal também vai fazendo parte das temáticas da Mesa Redonda da primeira noite, através da participação da bióloga Débora Aquino que vai abordar a importância do canabinóide THC nos tratamentos de saúde; e também do advogado e presidente da Associação Jardim, Arthur Ângelo, que vai abordar o tema ausência de crime no cultivo e extração de óleo de cannabis para fins de saúde.

Na parte de empreendedorismo feminino haverá palestra da engenheira química e especialista em indústria 4.0, Ranny Freire. Com o tema ‘É coisa de mulher sim sinhô’, ela vai trazer a sua experiência na fabricação da cerveja artesanal e a atuação das mulheres neste ramo.

A Inteligência Artificial será o assunto abordado pelo Engenheiro mecatrônico pela USP Rafael Sanchez. A ideia dele é trazer ao debate da mesa um guia de relacionamento com as máquinas.

O segundo dia do Pint of Science (24/05) será na cervejaria Gard Beer, bairro dos Bancários. O foco dos debates vai girar em torno do tema pandemia, entrando em eixos como vacinas, genética e evolução.

Para explicar melhor o evento, como ele foi pensando e o que podemos esperar dele, fomos conversar com Cíntia Moreira Lima, que é a organizadora do evento, cientista e cordelista. Confira a entrevista a seguir:

Brasil de Fato Paraíba - O festival Pint of Science é uma forma de divulgação da ciência de forma descontraída, como bem você afirmou, extrapolando os muros da academia. em tempos recentes, afirmava-se no Brasil que a Terra era plana. Em sua opinião, como a Ciência pode ser popularizada para que pensamentos como este não destruam o pensamento científico?  

Cintia Moreira Lima- Acho que estamos vivendo uma era de "fake news". Há vários pseudocientistas por aí se aproveitando da era das desinformações, ou da quantidade de informações, se aproveitando da falta de tempo de irem atrás de verificar a veracidade dos fatos, se aproveitando da era das mídias digitais, onde tudo que se vê se considera verdade, pela maioria das pessoas, e esses pseudocientistas acabam dizendo asneiras e  barbaridades que não têm nenhum embasamento científico confiável e nenhum experiência, nem mesmo deles para passar algumas informações. Acaba que as pessoas caem nessa, reproduzem essas informações e isso inflige até mesmo, de uma maneira prática e teórica na vida das pessoas. As pessoas até mesmo se recusam a apesquisar tal ato porque  viu um pseudocientista da internet ou da vida real falando de tal assunto e sente repulsa, não busca mais divergência, vê opiniões diferentes, não busca se aprofundar no assunto, achaque é aquilo e ponto final. Isso gera muita desinformação, ignorância e preconceito. Atualmente, o cientista de hoje em dia tem que mostrar suas credenciais e sua experiência para ser considerado de fato alguém confiável para falar certos assuntos e, aparentemente, alguns ainda se mantém na era das desinformações e na era da falsidade, mesmo possuindo diploma e possuindo uma experiência, então hoje em dia nós não podemos dar nossa credibilidade e confiar em qualquer pessoa, nós temos que viabilizar a Ciência da forma mais ética possível, que é ao escutar uma informação e ao observar um fato ou observar um ato tem que ser feita uma pesquisa pelo menos bibliográfica, pelo menos  escutar algum pesquisador, algum cientista, algum profissional com boas qualificações falando a respeito do assunto e,  diante de todas essas informações, tomar base aquilo que acredita-se que é verdade.


Brasil de Fato Paraíba - A cannabis medicinal ainda é vista por uma parte da população como uma medicina menor ou de "maconheiras/os", sem um reconhecimento levado a sério, muitas vezes pela própria categoria médica, como o Festival pretende desconstruir essa visão limitada sobre o assunto? 


Cintia Moreira Lima - Não é de hoje que a Ciência enfrenta alguns riscos em suas pesquisas, em seu desenvolvimento, devido ao fato do senso comum ainda se manter enraizado e  propagado  na nossa sociedade. O caso  da cananbis medicinal ou de outros estudos feitos com a cannabis é só um exemplo. Ainda há muito o que se debater sobre a cannabis, muito  o que mostrar para a sociedade, como  ela pode ser aproveitada, qual é a informação mais correta que a gente tem que passar sobre o uso dessa planta, que entre outras do reino vegetal, é uma planta, é um ser vivo e assim como qualquer outra planta, que também é medicinal, como por exemplo, uma arruda, um matruz, merece ser respeitada e merece ser estudada, não só porque ela serve para o ser humano, mas porque é um ser vivo, a biologia nos ensina isso. Além do mais,. chamar pessoas qualificadas como a Débora Aquino, que é doutoranda em farmacologia pela UFPB e o Arthur Ângelo, que é advogado e estão a frente dessa causa, dessa luta, que não tem só uma luta científica, tem uma luta social, tem um luta global também, falando sobre isso, é uma chance que a gente tem de divulgar para as pessoas, informações imprescindíveis e aptas que tem que ser reavalidas, reflexões, pensamentos, em torno dessa questão da maconha ou da cannabis, cientificamente falando, medicinal. Abrir esse espaço para esses dois pesquisadores falar sobre isso, é uma forma que nós temos, que está ao nosso alcance, de auxiliar nesse processo de entendimento, de auxiliar nesse processo de quebrar as barreiras, de reavaliar, de repensar, porque nós estamos passando por um período de regeneração científica, de reflexão, de inovações, nós estamos passando por uma era onde daqui para frente vamos ter mudanças, e é essencial que o Festival Pint of Science 2023 exemplifique quais tipos de mudança já poderemos ver agora e que daqui para frente só vai aumentar.

Brasil de Fato Paraíba - A cultura popular e a Ciência estão presentes no festival como um ponto alto. Como elas se interligam e de que maneira vão estar presentes no Festival?


Cintia Moreira Lima - Acho que tudo pode se resumir em comunicação. O evento traz isso consigo, ele traz como nós devemos se comunicar com a Ciência. Nós devemos comunicar a Ciência de qual forma didática, teórica, universitária, só fazendo artigo científico e se comunicando com cientistas renomados que publicam em periódicos importantes? Ou nós devemos se comunicar com o público em geral, com o público que visita bares e restaurantes, com o público que está na rua, que frequenta ambientes e realiza encontros? Quando paramos para pensar, nós teremos que se comunicar com as pessoas de uma forma diferente. E como é nossa comunicação de acordo com a história da Paraíba? Estamos fazendo um evento sobre Ciência Paraibana, nada mais  justo do que olhar para trás e ver onde é que está nossa comunicação. A nossa comunicação veio de repentistas, cordelistas, veio principalmente do século passado para cá, de várias pessoas que usavam sua comunicação nos sertões nordestinos para fazer ciência também e para fazer prosas, versos, explicar coisas de natureza, coisas de saúde (estou falando 'coisas' por que era isso que eles falavam na época, não tinham esses termos bonitos que a gente está acostumado a ver não), então se a gente  para ver a nossa representatividade nordestina pelo ponto de vista da comunicação, a gente vai ver que  a cultura de literatura de cordel sempre esteve presente e nós não podemos evitar isso. É a nossa história. A Paraíba tem uma relação muito forte com a literatura de cordel e falar sobre ciência paraibana, sobre comunicação, como vamos comunicar fazendo ciência paraibana, como vamos conversar com o público falando sobre ciência paraibana é falar sobre literatura de cordel. Por que? Porque é um contexto histórico e nós não podemos deixar que nossa cultura seja apagada.

Brasil de Fato Paraíba - Inteligência Artificial e Empreendedorismo Feminino também são temas do Festival, como essas temáticas vão ser trabalhadas e por que elas forma escolhidas para compor o evento?


Cintia Moreira Lima - Se você parar para perceber as demais programações das cidades do Pint of Science do Brasil que disponibilizaram no site e em seus perfis de instagram, de laboratório, de centros de pesquisa, ou de pesquisadores autônomos também, você percebe que a Inteligência artificial está em alta porque ela está começando a ser cada vez mais desenvolvida. E voltando aquela questão de que o Pint of Science tem que se comprometer com questões que vão crescer daqui para frente, é uma forma de conscientizar aos palestrantes e também aos ouvintes que estarão presentes nos dias 23 e 24 sobre coisas que eles vão ver daqui para frente, introduzí-los sobre como vai estar o mundo daqui a 5 anos, 10 anos e percebemos que o avanço da inteligência artificial está em qualquer lugar e digo mais, se nós não focarmos nisso daqui para frente, a gente vai ser arriscado a ver uma fake news, então trazer o Rafael, que é um pesquisador incrível, para introduzir as pessoas para a realidade dos nossos relacionamentos com as máquinas e com a inteligência artificial, desde as formas mais simples, desde celular, até forma mais complexas, como uma pesquisa, um sistema, um aplicativo, dentre outro, vai ser interessante até mesmo para despertar novas ideias e curiosidades do público. Nós não podemos evitar que ali vão sair futuros cientistas e já estão saindo, já estão indo futuros cientistas, que devem se conscientizar dos assuntos e inovar suas pesquisas também. Nós gostamos de dizer que servimos de referência e entre tudo, a referência da ciência também vai fugir dos muros da Academia e uma das formas que ela foge dos muros da Academia, ou até mesmo uma das formas que ela se mantém presente é pelo empreendedorismo feminino. A gente não pode negar que há mulheres, e também homens, a universidade, que estão estudando  mas que podemos seguir, e aplicar o que aprendem, no ambiente acadêmica, na vida e no mercado. E podem ganhar um renda extra ou sobreviver uma certa renda diante  do seu conhecimento científico mas aplicado de forma mais direta no mercado e nos negócios da sociedade. A área do empreendimento está crescendo, as pessoas estão mais antenadas no marketing,  e na questão dos negócios e da publicidade. A Ranny, que é uma cervejeira excepcional vai nos dizer coisas importantes, que vai ajudar jovens cientistas a se inspirarem e lutarem por essa causa.

Brasil de Fato Paraíba - Gostaria que você falasse sobre quem está organizando o evento e das/dos cientistas que vão participar do Festival.

Cintia Moreira Lima-  Sinto muito orgulho da equipe de cientistas, professores, profissionais que compõem o nosso Festival do Pint of Science 2023, em João Pessoa. Primeiramente, pela coordenadora geral, Sayonara Elizário, professora da UFPB, que atua na área de energia renováveis, que tem ampla experiência com eventos e me ajudou bastante a conduzir o evento de uma maneira mais significante e profissional e ética.  A ela eu devo muito aprendizado e conhecimento. Além dos palestrantes, que divididos na área de saúde, farmacologia, genética, inteligência artificial, cerveja, empreendedorismo, temos também Sara, Sávio, Mateus, Ranny, Rafael, Arthur e Débora, além desses, temos alguns monitores voluntários, todos estudantes do curso  de graduação divididos nos cursos de Ciências Biológicas, Bacharel e Licenciatura, Engenharia Ambiental ,Antropologia, dentre outros. Três deles, trabalham com a temática principal do evento que é falar de Ciência de uma forma descontraída e divertida, que são Nely, Lucas e Mateus, todos estudantes de Licenciatura em Ciências Biológicas do IFPB, da área de animais silvestres, divulgando suas pesquisas e suas atuações  no instagram Papo de Bicho. Também tem Natan, que é da mesma instituição, que trabalha com insetos e Roberta, que trabalha com insetos aquáticos e atua na UFPB. Também tem Samuel que é fotógrafo da fauna silvestre, fotógrafo de passarinhos e temos o Marlon, que é doutorando em Antropologia Social na UFPB. Além do mais, temos Bruno Máximo, estudante de design gráfico do IFPB de CAbedelo e que está responsável por toda composição visual do evento e um fotógrafo oficial que é o Felipe, que é o responsável por todo o audiovisual do evento e por fim a ssessora de imprensa, Michele Azevedo. O cordelista Fabiano Gumier também, ele é biólogo, possui várias cordéis para fauna e a flora e o meio ambiente e ele atua na produção de cordéis científicos e possui seu catálogo no instagram @fabianogumier.


Nely Fischer, Lucas Santos é Matheus Santos do Papo de Bicho, monitores do evento e estudantes do curso de Ciências Biológicas / Divulgação


Sayonara Elizário, coordenadora geral do evento. / Divulgação


Brasil de Fato Paraíba - Por fim, gostaria que você convidasse as pessoas a participarem do Festival Pint of Science e nos respondesse: Por que não podemos deixar de ir?


Cintia Moreira Lima - Eu acredito que atualmente nós estamos precisando assim, descontraídos, divertidos, didáticos, que sejam para celebrarmos coisas que são nossas. Por exemplo, celebrarmos a Ciência e o desenvolvimento científico paraibano. Celebrar a nossa cultura, dita por versos e estrofes de cordel, celebrar os nossos encontros, os nossos amigos, nossa cidade, já que ultimamente João Pessoa anda crescendo muito nos destinos turísticos e gastronômicos do Brasil. Muitas pessoas andam indo para bares e restaurantes para se divertir, desopilar e sair um pouco daquele mundo de só trabalhar, então se você gosta de aprender e se divertir, acredito que o Pint of Science é um evento certo para você. venha e compareça ao nosso evento, no dia 23 de maio, Porks, a partir das 19h e no dia 24, no Gard Beer, a partir das 19h também, vai ser um prazer te receber.

Edição: Heloisa de Sousa