Na manhã desta quinta-feira (01), uma equipe da empresa Impacto Geotecnia LTDA chegou fazendo uma abordagem no galpão ocupado pela Associação Catajampa, em João Pessoa. A empresa teria sido contratada para realizar um estudo de viabilidade de solo.
Segundo Egrinalda Santos, da Associação Catajampa, aos funcionários da empresa chegaram, da primeira vez, sozinhos, no que os associados responderam que aquele espaço estava sob processo judicial e que não iriam abrir o portão. Os funcionários da empresa Impacto foram embora e quando retornaram já foi em companhia da Guarda Municipal.
“Eles (a empresa) chegaram de manhã, eu ainda tava fazendo a higienização do espaço, organizando para poder sair. A empresa chegou sozinha, e aí nós falamos que esse espaço aqui está em processo de justiça, não podemos deixar ninguém entrar. A empresa foi bem legal, mas ligou para o comando, foram embora e depois voltaram junto com a Prefeitura e a Guarda Municipal.
Egrinalda conta que mesmo assim não quis deixá-los entrar, no que eles começaram a fazer ameaças. “Eles disseram nós vamos sair, nós vamos embora, mas quando voltar é com a Guarda Municipal e vamos tirar vocês daqui, e aí começaram a se exaltar”.
Ela então pediu um tempo para entender o que estava acontecendo e, em seguida, eles responderam que tinha que ser hoje mesmo e que só desejavam fazer um estudo de viabilidade do solo.
“Nós ficamos na obrigação de permitir. Eles, juntamente com a Guarda Municipal, e permaneceram o tempo todo aqui dentro fazendo escavações para estudar o solo”, explica ela.
O galpão fica localizado no bairro dos Estados, ao lado da feira do Mercado Público. Há cerca de dois anos, era um espaço empresarial que foi tomado pela prefeitura por causa de dívidas com o IPTU. Em pouco tempo,o espaço foi depenado e ocupado pelo tráfico de drogas e atos ilícitos sexuais.
“Todo mundo aqui na redondeza deu glórias com a entrada da gente aqui porque estavam vendo a hora uma morte acontecer. O prédio já estava todo depenado, já tinham levado até as telhas e caibros, e o solo todo deteriorado com resíduos de fezes e lixo, e aí fizemos toda a limpeza, e antes de entrar aqui nós procuramos primeiro a Sedurb. Eles marcaram mas não apareceram, e aí decidimos entrar no espaço porque vivíamos num local alugado, e recebemos ordem de despejo, fomos tirados daquele galpão e precisávamos ocupar outro espaço imediatamente para colocar os nossos maquinários e materiais também”, conta Egrinalda.
Os catadores fizeram a limpeza do local, realizaram diversos benefícios, abriram um portão, além de instalação elétrica. Segundo Egrinalda, eles também abriram um processo na Defensoria Pública, com a apoio do Procurador da República, José Godoy,
A Associação Catajampa conta com 16 associados, entre catadoras e catadores. O espaço é utilizado para coleta, triagem e vendas de materiais oriundos da catação de recicláveis, mas também outras atividades acontecem por lá o como a entrega de cestas básicas e a atividade social do sopão que acontece a partir das 15h30, dentro da feira, com a distribuição de 150 litros de sopa para a população em situação de vulnerabilidade.
O espaço também abriga o maquinário: prensa, balança, empilhadeira e máquina de solda e que no momento não estão sendo utilizados porque não há uma instalação elétrica para atender as necessidades das máquinas - por se tratar de uma ocupação, a instalação é provisória.
Estranhamente, diversos órgãos da prefeitura já chegaram no local para fazer variados tipos de averiguações. Desde a Defesa Civil, Secretaria de Saúde, Seinfra, Sedurb, e agora esta ação para fazer avaliação do solo.
Para Egrinalda, a perseguição parte, principalmente, do setor empresarial local que tem interesses naquele espaço: “Os empresários vinham aqui direto perguntando se era para alugar e perguntando a quem pertence o espaço. Até mesmo as secretarias alegam que é o empresariado fazendo denúncias para poder ocupar o espaço”, destaca ela.
Egrinalda conta que entidades locais, ligadas aos empresários também fizeram pressão na comunidade: “Eles andaram fazendo circulação aqui no entorno do galpão, com os moradores, tentando fazer uma pressão para eles dizerem que a gente prejudicava eles, no que responderam que, muito pelo contrário, depois que entramos passaram a ter mais confiança de transitar por aqui porque isso aqui vivia abandonado e cheio de marginal. Eles responderam aos moradores que eles só iriam entender que estavam sendo prejudicados quando acontecesse um incêndio e atingisse todo mundo”, conta ela.
“Isso também é uma articulação para poder conseguir forças para jogar a gente para fora daqui”.
A redação do Jornal Brasil de Fato entrou em contato com a Seinfra, fomos repassados para vários ramais, desde o atendimento, a chefia de gabinete, de comunicação e até a diretoria de manutenção, mas ninguém soube responder de onde partiu o comando desta ação. Também entramos em contato com Matheus Figueiredo, da Secretaria de Saúde - este contato que nos passou foi um funcionário da Empresa Impacto, mas Matheus não nos atendeu e não respondeu às nossas mensagens.
Edição: Cida Alves