Paraíba

Coluna

A estratégia de (re)industrialização do país e o desenvolvimento social e sustentável na PB

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Lula e João Azevedo em Brasília - Foto Divulgação
A sociedade paraibana pode (e deve) engajar-se na discussão sobre desenvolvimento nacional

Por Mario Henrique Ladosky*

O Brasil, aos poucos, vem saindo de um período de trevas como jamais tínhamos vivido em nossa História. Todos sabemos que não é fácil esse momento de retomada do país. No mês passado, esta coluna alertou que o movimento sindical deveria estar atento e forte pois, apesar dos avanços que já podem ser celebrados na área trabalhista, o risco de retrocesso está no ar. A política de juros altíssimos praticado criminosamente pelo Banco Central “independente” é uma delas e pode pôr a perder a geração de empregos de qualidade e melhoria dos salários; e o desenvolvimento que a sociedade anseia e precisa. A luta continua!!!

Nesse contexto, qual o cenário do desenvolvimento e do emprego na Paraíba? Os dados mais recentes disponibilizados pelo IBGE (PNAD Contínua) e pelo Ministério do Trabalho (Novo CAGED) dão um retrato do que foi o primeiro trimestre de 2023: o desemprego foi de 11,1%, maior que a média nacional (8,8%). Além disso, foi o estado do Nordeste em que os desligamentos superaram mais fortemente as admissões, sobretudo pelo desempenho da indústria de transformação. Um acontecimento que ilustra a situação foi o anúncio na imprensa da demissão de mais de 600 funcionários pela Alpargatas no início do ano, em Campina Grande, alegando a queda da venda dos produtos. Em síntese, os dados indicam que enquanto o país aumentou levemente o nível de emprego no primeiro trimestre de 2023; a criação de emprego na Paraíba no mesmo período foi dissonante em relação à dinâmica nacional. 

A retração do emprego pode ser resultado de fatores conjunturais e/ou de mercado, como no caso da fábrica da Alpargatas em Campina Grande, contudo a indústria, em geral, vive uma crise estrutural que tem levado ao encolhimento de sua participação no PIB nacional, que já foi de 27% nos anos 1980 e chegou a 10% na década neoliberal de 1990. O número de trabalhadores e trabalhadoras se reduziu em todos os segmentos industriais em virtude de processos de automação e novas formas de organização do trabalho. Como reverter esse quadro e engajar a Paraíba no rumo do desenvolvimento econômico, social e sustentável com geração de emprego de qualidade? A iniciativa de retomada da industrialização pelo governo Lula, anunciada no dia 25 de maio, vem em boa hora e deve ser aplaudida, ao mesmo tempo que precisa ser aprimorada por meio de um debate na sociedade.

Assim, questionamos: até que ponto as medidas anunciadas para reindustrialização vão também na direção de um desenvolvimento social e ambientalmente sustentável do país, gerando empregos de qualidade e salários melhores em todas as unidades da federação? Será que a ampliação da capacidade produtiva e de venda de automóveis a preços mais baixos deve ter prioridade para receber os incentivos das medidas? Mesmo considerando a extensão deste setor na cadeia de autopeças e outros ramos de atividade, ele é capaz de ampliar a geração de emprego de qualidade na quantidade suficiente para aquecer também o mercado de trabalho? Qual a combinação possível para a produção automobilística entre “reviver uma indústria do passado” e “incrementar uma indústria do futuro”?

Não se pode, nem é nossa intenção, negar a relevância do setor, símbolo global da indústria desde o final do século XIX, tampouco negar incentivo para seu recrudescimento, que pode até gerar alguns resultados sociais, contudo devemos nos perguntar as razões de tal prioridade nas medidas anunciadas quando estamos diante de necessidades que demandam outro tipo de atividade industrial, mais voltados aos aspectos sociais e de sustentabilidade ambiental do desenvolvimento. 

A sociedade paraibana pode (e deve) engajar-se na discussão sobre desenvolvimento nacional, considerando e respeitando suas especificidades socioeconômicas e o meio-ambiente. E, certamente, nessa direção, pode dar uma grande contribuição para a (re)industrialização do país de várias formas. Uma delas passa pela inserção em setores industriais “de ponta” que requerem conhecimento científico e tecnológico (CT&I), aportando, por exemplo, pesquisa sobre energia limpa e renovável, sobre ciências da vida e em tantos outros temas. 

Da mesma forma, pode (e deve) estimular o desenvolvimento através de tecnologias sociais que apoiem soluções para a agricultura familiar no semiárido, ou para comunidades nas periferias dos grandes centros urbanos, assegurando melhor qualidade de vida à população. 
Enfim, há muitos caminhos que o desenvolvimento econômico, social e sustentável pode seguir na Paraíba, fomentando uma “indústria limpa e moderna”. Há muitos docentes e discentes capacitados para isso nas instituições públicas de ensino superior localizadas no estado, como a UFCG, UFPB, UEPB e IFPB.

Não se trata de fazer um corte abrupto, como um “cavalo de pau”, mas sim de promover uma transição na direção, podemos dizer, de uma “nova industrialização”, que seja baseada na inovação tecnológica voltada ao desenvolvimento social e sustentável; e que para isso se tenha uma estratégia apoiada por medidas de financiamento / incentivo que priorize os setores com esse perfil e por uma capacidade de governança que articule os esforços de todas as instâncias públicas do Estado (no nível federal, estadual e municipal) e da sociedade.

Este artigo expressa as opiniões do autor. 

*Professor de Sociologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e Coordenador do Observatório do Mercado de Trabalho e da Informalidade na Paraíba – OMTI-PB.

 

Edição: Maria Franco