Paraíba

Coluna

Pintura Corporal Potiguara

Pintura Potiguara - Leonardo Cinésio - Arquivo Pessoal - Autor
"Ao pintar meu corpo, sinto a presença dos encantados; é difícil expressar em palavras essa energia"

Por Leonardo Cinésio Gomes*

O Povo Potiguara da Paraíba é um dos poucos povos do Brasil que não deixou seu território, mesmo diante a tantas guerras e conflitos com os portugueses, holandeses, e com tantos outros impostores que por essas terras chegaram. Com estratégias de resistência (se camuflar e de recuar quando preciso), o povo Potiguara se manteve -  e se mantém -  em seu território. Um dos fatos que colaborou intensamente para essa resistência foi a espiritualidade, a relação com a natureza, com os seres encantados e com os rituais.

Para a realização do ritual do Toré, - seja para celebrar vitória, luto, festejar ou clamar por tempos melhores -  as pinturas corporais são indispensáveis. Realizada por homens e mulheres, de crianças a anciãos, a tinta é extraída do jenipapo e urucum. A pintura corporal é realizada pelos povos Potiguara por centenas de anos, e se estende até os dias atuais. Lembro das primeiras vezes que pintei meu corpo quando ainda era criança com a tinta do jenipapo e do urucum; foi no ambiente escolar na Aldeia Jacaré de Cesar, minha aldeia de origem. Fui pintado muitas vezes pelo professor Manoel Pereira (um dos criadores de muitos grafismos Potiguara) em rituais de Toré nas aldeias, em momentos de conquistas, momentos de celebrações, assim como em momentos de reivindicações (veja na foto abaixo).


Demonstração da pintura corporal durante a luta dos povos indígenas pela garantia da bolsa permanecia na UFPB, no dia 17 de outubro de 2013/ Arquivo Pessoal - Autor

Na pintura corporal do povo Potiguara é possível encontrar cosmologia, espiritualidade e resistência. Significados importantes que se perpetuam de geração em geração. Aspectos da natureza são representados através das pinturas, cada qual com seus significados, que representam dos caminhos de Mont-Mor ao simbolismo da união das abelhas.

Cada pintura corporal Potiguara tem um significado, assim como é pintada em diferente ocasião. E cada indígena tem sua pintura “preferida”. Eu costumo me pintar com a colmeia, uma pintura feita em formato geométrico de hexágonos, pentágonos e trapézios (formas da matemática formal), que representa a coletividade das abelhas e dos Potiguaras, assim como a riqueza e a pureza do mel produzido pelas abelhas presente no território Potiguara. Ao pintar meu corpo, sinto a presença dos encantados. É algo difícil de expressar em palavras a energia que é transferida através da tinta extraída no jenipapo. 

É fácil ver pessoas com as pinturas Potiguara estampadas em seus corpos nas aldeias localizadas na Paraíba e distribuídas nos municípios de Rio Tinto, Marcação e Baia da Traição. Pinturas essas, que representam para cada indígena um significado. No Abril Indígena¹, por exemplo, acontece uma série de atividades em alusão ao nosso povo.

Faz-se necessário a utilização dos atos culturais do Povo Potiguara dentro do ambiente escolar para que eles se perpetuem de geração em geração; a escola deve ser multiplicadora desses conhecimentos, como por exemplo, a pintura corporal que é uma expressão cultural ‘viva' para o Povo Potiguara da Paraíba, essa pintura é ligada diretamente com a espiritualidade indígena. 


Pintura do dia 28 de abril de 2022 na ECI Indígena Índio Antônio Sinésio, na aldeia Brejinho (Marcação/PB). Preparação para a semana cultural do mês de abril / Arquivo Pessoal - Autor


*O Autor é graduado em Matemática pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB-Campus IV), Especialista em Matemática (UNIASSELVI), Especialista em EJA (IFRO), Professor de Matemática da Educação básica atuando no Ensino Médio na ECI Indígena Índio Antônio Sinésio da Silva

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NOTAS DO AUTOR

¹ Sobre o ABRIL INDÍGENA: Diferente do colonizador que instituiu apenas um dia para lembrar a nossa existência, celebramos e
exaltamos nossa cultura durante todo o mês

Edição: Polyanna Gomes