Paraíba

Coluna

A arte e carta nas palafitas

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Mural "A menina e o balão" - Divulgação - Banksy
Arte é interpretação diversa, barreira ao grotesco e o encanto vivo

Por Miguel de Brito Santos 

O artista de rua enfrenta, confronta e conforta inconformados com o consumo desumano do modo capitalista indomável. Banksy em A menina e o balão, nos faz lembrar da infância. O balão vermelho, na forma de coração, livre, enquanto, a menina aponta na direção daquela liberdade. Arte é interpretação diversa, barreira ao grotesco e o encanto é  'Partir da infância', diz, vivo, Freire. Permite ao adulto a reflexão, a viagem no tempo dos primeiros passos.

Em O Jogador de Flores, o pintor ironiza e chama atenção das dores nas guerras ao transformar coquetel molotov em ramalhete de flores. Essas são como estrelas no céu, todo dia nascem e morrem, deixam seu brilho, seu cheiro e partem sem drama. Mas na guerra não, são matadas. Satiriza ao pintar uma criança revistando um soldado no muro palestino. Denuncia o desejo do capitalismo central pelos conflitos sobre a terra; que possui caprichos, limites de exploração. Ela só será espaço genuíno de alegria sem fome e sem guerra.  Acabar com a fome é urgente, como também o é alimentar a criação com pinturas, cinema, ciência, literatura, música, e arte. Um clique, um instante para ouvir um samba! Emocionam as batidas do tamborim, baterias e o apito carnavalesco do samba 40 Anos, onde Emílio e Alcione enredam de Palmares a Tancredo. Um resgate da epopeia brasileira que precisa deixar de ser refém de uma boca banguela, escrita por Caetano Veloso. Assim disse: cantando eu mando a tristeza embora. É preciso cantar muito! Porque a cultura perdeu no palco e na música. 

Os instrumentos, afinados, silenciaram tristes pelo encantamento do multi-instrumentista João Donato que, com Gilberto Gil, escreveu A Paz. Na dramaturgia partiu Zé Celso, mas há um poder na criação deles, esse os mantém vivos nas composições e nos palcos. João dos diálogos instrumentais de ritmos afro, latino, caribenhos. Zé da Oficina, dos elementos brasileiros, o Rei das Velas de Oswald de Andrade e Roda Viva de Chico Buarque, levados à cena. Há muita história! Criadores na busca da brasilidade. Nascidos no período em que muitos brasileiros pintavam, projetavam e constituíam o país em mar revolto com a crise de 29 pelo mundo. E logo surge uma constituinte, 1936. A cada 45 anos uma bastão constituinte para se dizer um país novo. Cá estamos, com tanto mar de gente negativada e com fome, mas lá vai o ministro da economia aliviar o gargalo dos milhares endividados com cartões de crédito.

A totalidade é épica como nossa história, donde extraímos as cartas que nos moldaram. A chantagem do Banco Central, queda de braços a ser pintada, ao falar em terceirizar reservas do país, contra o governo diz muito. Agora, o cenário recente, é de taxa alta e deflação. Isso molda, cala, trava, oprime os de baixo, que seguem sem direção. Pela constituição essa chantagem tornou-se possível. Do outro lado o executivo pretende taxar, com melindres desproporcionais, 2500 supe-ricos. Assim segue o jogo, não da seleção feminina, parece bem, brasileiro que é nossa constituição em PASSOS LENTOS à frente ou passos rápidos pra trás. Já comprovado! 

Nesse mês - está no Midia NINJA - a Ministra dos Povos Indígenas e a Presidente do STF, lançaram, em São Gabriel da Cachoeira, na língua viva nheengatu, oriunda do Tupi, a tradução da Constituicão de 1988. No nosso jogo esse foi um gol popular? Parece que sim, contudo, o cordão formalista que se desenrola desde 1891 a 1988 atinge um limite democrático excludente em seus processos de parlamento. Darcy, na sua sinfonia antropológica, de três momentos: Processo civilizatório, As Américas, O Dilema da América Latina, nos fala, nesse último livro, do pavor que tem as as elites locais a qualquer movimento insurgente do 'proletariado externo'. Dormem sob vigília permanente, no remo contra cultura, arte ou teoria que caia nas graças populares dos brasileiros, com diz Herbert Viana, "das palafitas, trapiche, farrapos, desconfiados com a face dura do mal".


*Miguel de Brito é bacharel em Engenharia, licenciado em Física e educador matemático; Também Servidor Público do Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.

Edição: Maria Franco