O movimento sindical brasileiro vai aos poucos se recolocando no cenário político
Por: Mario Henrique Ladosky
Na coluna deste mês destacamos que o movimento sindical brasileiro vai aos poucos se recolocando no cenário político depois dos duros ataques que sofreu nos últimos anos.
A boa notícia vem do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE): um ano atrás, em junho de 2022, somente 42,2% das categorias com data-base naquele mês tiveram ganho real nos salários, acima da inflação. Em comparação, em junho de 2023, 85,9% das Convenções Coletivas registraram ganho real para as categorias!!
Outro dado que contrasta o último ano do governo fascista com o primeiro de Lula na presidência: 30,7% das categorias com data-base em junho / 2022 fecharam acordo com perda salarial para a inflação. Em junho de 2023, somente 1,8% tiveram perdas.
Pelo menos três fatores interagem e explicam tamanha diferença. Um deles é a recuperação do emprego, sobretudo no Brasil e no NE, que mencionamos nesta coluna no mês passado. Outro, é a queda da inflação que o governo Lula conseguiu realizar no primeiro semestre. O terceiro é a mudança no ambiente político-econômico, que mudou drasticamente no país, com maior estabilidade, previsibilidade e confiança na melhoria da situação. A combinação desses elementos favorece a atuação dos sindicatos nas mesas de negociação coletiva e o resultado é este que apontamos acima: a maioria dos trabalhadores e trabalhadoras (75,1%) estão tendo uma melhoria efetiva de seus salários, acima da inflação.
Este cenário econômico favorável se expressa de forma diferenciada pelo país, e no Nordeste, em geral, o resultado é um pouco menos positivo que nas demais regiões: por aqui “somente” 67,4% das negociações coletivas entre janeiro e junho conquistaram aumento acima da inflação. Não está mal, se comparado com o ano anterior; mas o quadro de evolução poderia estar melhor.
É claro que o contexto político-econômico nos ajuda a entender a conjuntura, mas nada aconteceria se não houvessem os sindicatos para aproveitar este momento, mobilizar suas bases e obter conquista para suas categorias.
Muitas categorias da iniciativa privada foram à luta, mas uma olhada rápida no site das principais centrais sindicais destaca as mobilizações de inúmeros servidores públicos municipais e estaduais, sobretudo das áreas de educação
e saúde, em grande parte motivado pelo reajuste conforme o piso nacional do magistério e da enfermagem, respectivamente.
Esse foi o caso do Sindicato dos Trabalhadores Públicos Municipais do Agreste da Borborema (Sintab), que tem a principal base em Campina Grande. A entidade comandou a greve dos professores entre 8 e 16 de março pelo reajuste de 14.95%, conforme anunciado pelo MEC, contra 10% oferecido pela Prefeitura.
O segundo semestre não deve ser diferente, com a campanha salarial de grandes categorias, como a dos bancários e dos petroleiros, entre outras.
Parece que o sindicalismo, que andou meio de lado nos últimos anos, agora sai da coxia e retorna novamente ao centro da cena na luta pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
Edição: Cida Alves