“Se muito vale o já feito; mais vale o que será!” (Milton Nascimento e Fernando Brandt)
Por Mario Henrique Ladosky*
A coluna deste mês é dedicada ao aniversário de 40 anos da Central Única dos Trabalhadores – CUT, completado no dia 28 de agosto.
Na época de sua fundação, em 1983, a classe já havia surgido como protagonista na cena política nacional com as greves dos metalúrgicos de São Bernardo e Diadema (SP) realizadas a partir de 1978, que se irradiou nos anos seguintes para inúmeras categorias em todo o país. O projeto do regime militar, de promover uma abertura lenta, gradual e segura, sem povo, estava derrotado! Ao menos nesse quesito... As imagens das assembleias de massa no estádio Vila Euclides mostram o quanto os trabalhadores e trabalhadoras tinham sede de participação.
O desenrolar das lutas foi se combinando com um processo de reorganização sindical e muitos encontros que foram demarcando os campos políticos no movimento. O projeto inicial de uma única central com todas as forças políticas nunca se viabilizou. Somente na Conferência Nacional da Classe Trabalhadoras (CONCLAT), realizada em 1981 houve a presença de todo o espectro político, dos dirigentes mais conservadores às oposições sindicais mais aguerridas.
As divergências que se evidenciavam na Comissão Nacional Pró-CUT, formada na Conferência com a incumbência de organizar a fundação da central sindical, prenunciava uma cisão no movimento. Assim, parte da Comissão Pró-CUT convocou o Congresso Nacional da Classe Trabalhadora – CONCLAT, que fundou a CUT em agosto de 1983 no pavilhão Vera Cruz, antiga produtora de cinema, em São Bernardo do Campo. Mais de 5 mil delegados, homens e mulheres, escreveram uma das mais importantes páginas da história do sindicalismo no Brasil naquele dia.
De lá para cá muitas coisas mudaram no país; no sindicalismo, em geral, e na CUT em particular; e no regime de acumulação capitalista, global, flexível, enxuto, financeirizado. Antigos desafios persistem, como o fortalecimento da organização de base, a melhoria salarial e das condições de vida e de trabalho para a classe, entre outros. Desafios que se imaginavam superados, ressurgiram, como a luta pela democracia no país. E novos surgiram, como é o enfrentamento aos efeitos negativos das inovações tecnológicas, que pode varrer milhares de vagas de emprego no futuro próximo, e nas formas de organização do trabalho que vem a precarizar as relações de trabalho como é o trabalho nas plataformas digitais (“uberização”), por exemplo.
Novas centrais sindicais surgiram ao longo desses anos, com distintas propostas de organização, como a Força Sindical e a União Geral dos Trabalhadores (UGT). Algumas delas são resultado de cisão da CUT, como a Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil (CTB), a Central Sindical e Popular de Conlutas e a Intersindical Central da Classe Trabalhadora. Sempre que possível, as centrais se unificam em lutas comuns, deixando suas diferenças momentaneamente de lado.
Em síntese, conquistas e retrocessos pontuaram a trajetória da CUT. Creio que mais conquistas do que derrotas, embora essas sempre sejam mais amargas... Termino com um dos versos da canção “O que foi feito devera”, de Milton Nascimento e Fernando Brandt, imortalizado na voz de Elis Regina: “se muito vale o já feito; mais vale o que será!”
*Professor de Sociologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e Coordenador do Observatório do Mercado de Trabalho e da Informalidade na Paraíba – OMTI-PB.
Edição: Polyanna Gomes