Encontrar a arte pelos diversos espaços da cidade nos permite aliviar a tensão cotidiana
Por Hiago Trindade*
Certa vez, a escritora e ativista norte-americana, Bell Hooks, relatou que, no caminho para o seu trabalho, deparou-se com um grafite num canteiro de obras na rua com a seguinte afirmação: "A busca pelo amor continua, mesmo diante das improbabilidades". Para ela, o encontro com essa expressão artística modificou-a substancialmente, avivando a esperança em afirmar e (re)construir o amor.
Provavelmente, tal como ocorreu com Bell, em algum momento de nossas vidas, também já fomos surpreendidos por determinadas cenas que nos despertaram a atenção ao caminhar pelas ruas das cidades. Me refiro, por exemplo, aos fanzines fixados nos postes, aos "pixos" inscritos nos locais mais improváveis, aos prédios gigantes grafitados com inúmeras cores ou aos tantos murais pelos caminhos...
De fato, encontrar a arte pelos diversos equipamentos e espaços das cidades, pode nos permitir suspender um pouco o cotidiano e aliviar o peso e a tensão que carregamos. Por isso, todas as expressões da arte urbana devem ser valorizadas e incentivadas.
Foi justamente pensando na potencialidade dessa arte que a advogada Maria Araújo iniciou uma série de espaços formativos na cidade de Bananeiras-PB. Idealizadora do espaço "Casa Verde" (@casaaverde), Maria é uma entusiasta da arte e aposta nessa ferramenta para transformar positivamente as pessoas e os lugares que elas habitam.
As atividades na Casa Verde iniciaram ainda no período da pandemia. Maria relata que, "nesse momento inicial, denominado como primeira temporada de experimentação em arte e cultura, realizou-se o primeiro ciclo de arte de rua, no qual os participantes testaram tintas e experimentaram diversas técnicas de street art. Além disso, também estimulamos outras oficinas, como o quintal agroecológico, no qual incentivou-se o uso e a prática do conceito de agricultura urbana".
Alex Souto, artista e designer patoense, ministrando oficina "Arte Urbana" na Casa Verde, em Bananeiras (PB) / Foto: Hiago Trindade
Recentemente, no marco do I Festival de Cinema de Bananeiras - que se encerrou no último domingo (12/11), a Casa Verde abriu suas portas e emprestou as suas paredes para que um grupo de pessoas interessadas realizassem a oficina "Arte Urbana". Essa oficina foi ministrada pelo artista visual e designer patoense Alex Souto (@alexsouto.art), que dialogou com os participantes acerca das técnicas e direcionamentos para a construção de lettering e de pintura em paredes.
Ao final de dois dias de atividades, a intervenção final do curso consistiu em uma pintura no muro principal da Casa Verde. Após ver o resultado da intervenção artística, a comunidade local se interessou pelo trabalho e, de acordo com Maria, " já existe uma iniciativa para fazer um mural na Reserva da Moenda e o desejo para produzir um mural a pedido do café Le Petito. Então, a partir da realização dessa oficina, já principiamos dois interessados em pintar muros pela cidade. Isso é o que a gente queria, alcançamos nosso objetivo!", afirmou.
A expectativa, portanto, é que, em breve, outras oficinas no campo das artes possam ser realizadas na Casa Verde, contribuindo para a formação de um coletivo de artistas locais que consigam trazer mais cores para a cidade de Bananeiras.
*Doutor em Serviço Social pela UFRJ e professor do curso de Ciências Sociais na Universidade Federal de Campina Grande (Campus Sumé). Ainda pela UFCG, cursa o bacharelado em Arte e Mídia
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Edição: Polyanna Gomes