Paraíba

Coluna

O 20 de Novembro diante das discussões étnico-raciais na formação docente: reflexões entre a luta e resistência na celebração da Consciência Negra

Representação pictórica idealizada de Zumbi - Ilustração
Educação é a chave para a luta antirracista e construção de uma sociedade pautada em novas relações

Aline Vitoria Alves Da Silva*
Raiane Dos Santos Silva**
Emelyne Duarte Sales***
Ana Cristina Silva Daxenberger****

A resistência negra tem sido forte desde o início do processo de colonização do Brasil. São cerca de 500 anos de necessidades, exclusões e reivindicações variadas com diferentes protagonistas em luta. Vozes que ecoam fortemente aos gritos de liberdade, em meio a séculos de um silenciamento profundo. Uma dessas vozes foi a de Zumbi dos Palmares, herói negro e líder do histórico Quilombo dos Palmares, nascido em 1655, em Alagoas. Zumbi nasceu livre, mas foi entregue a uma família que o “presenteou” a um padre. O padre batizou-o como Francisco e o educou conforme sua religiosidade. Aos quinze anos fugiu para o Quilombo e em pouco tempo assumiu a liderança em decorrência da morte de seu tio Ganga-Zumba, resistindo às diversas tentativas falhadas de destruição ao Quilombo.

Sua força chamou a atenção de pessoas interessadas em exterminar o Quilombo. Após uma longa batalha iniciada em 1690, o quilombo foi invadido e Zumbi fugiu. Pouco tempo depois, um de seus homens foi capturado e, sob tortura, o entregou. No dia 20 de Novembro de 1695, seu esconderijo foi atacado e ele foi morto. Ali sua cabeça foi cortada e exposta em praça pública em Recife, como um troféu usado para acabar com o seu mito de imortalidade. Pensa-se então, que sua história finda nessa violência. Entretanto, Zumbi de fato torna-se imortal pela sua força e luta contra o sistema escravista e em prol da valorização de seu povo e cultura. “Zumbi vive ainda, pois sua luta não acabou” (DOMINGUES, 2007).

No calendário brasileiro, o dia 20 de Novembro passou a ser o dia oficial da consciência negra no Brasil, marcada profundamente pela figura de Zumbi. Por muito tempo, simpatizou-se com o 13 de maio, data da assinatura da Lei Áurea em 1888, que oficializou o fim da escravidão mais não proporcionou políticas públicas necessárias de reparação e reconhecimento aos negros e seus descendentes. A lei não teve compromisso suficiente com uma justiça social, negando a importância histórica e cultural dos negros e corroborando com o fortalecimento de um racismo profundo, servindo apenas para dar visibilidade à elite na figura da princesa Isabel e invisibilizar abolicionistas importantes como Luiz Gama, André Rebouças, entre outros. Como uma data com tais características poderia marcar a resistência daqueles que foram escravizados, se por si só, ela apaga sua responsabilidade e atuação na luta por liberdade e direitos?

Conscientes de que essa data não representava a liberdade do povo negro, o grupo Palmares passa a propor reflexões sobre o tema. O grupo era encabeçado pelo poeta Oliveira Silveira e a partir da luta de Zumbi, chegou-se ao 20 de Novembro como a data escolhida. A data foi marcada como o dia da consciência negra a partir de 1971 quando houve a primeira comemoração em homenagem a Zumbi. Sendo acolhida pelos movimentos sociais brasileiros, principalmente, o Movimento Negro Unificado. 

O movimento negro traz para a educação a discussão das questões étnico-raciais no Brasil. Assumindo no currículo o compromisso com a visibilidade do dia da consciência negra, a data entra para o calendário escolar em 2003 e em 2004 passa a integrar as DCNs - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana. Na formação docente a educação étnico-racial busca promover o respeito, a valorização e a compreensão da diversidade étnica e cultural, atuando no combate do racismo e a discriminação. É algo crucial por permitir entender e abordar da melhor maneira as questões relacionadas à diversidade étnica e cultural na sala de aula. Abarcando o conhecimento histórico e cultural, e estratégias pedagógicas sensíveis às diferenças, contribuindo para a desconstrução de estereótipos, o fortalecimento da identidade dos estudantes pertencentes a grupos étnicos diferentes, estimulando o diálogo e o respeito mútuo, formando cidadãos mais conscientes, empáticos e comprometidos com a igualdade e a justiça social.

Nesse sentido, a data é ponto forte dentro do contexto das discussões étnico-raciais, visto que para além de uma data comemorativa, ajuda a promover a compreensão da importância da cultura afrodescendente na formação da identidade e da sociedade brasileira, evidenciando injustiças históricas, estimulando a reflexão sobre a herança cultural africana e afrodescendente, que por muitas vezes é marginalizada ou sub-representada. A formação é responsável por nortear, viabilizar diálogos e conhecer o que é pouco discutido. A consciência negra está intimamente ligada às relações étnico-raciais e é na educação a chave para a luta antirracista e construção de uma sociedade pautada em novas relações sociais. 

PARA SABER MAIS

CHÉROLET, Brenda. Dia da consciência negra: como abordar o tema em sala de aula. Educa+Brasil, 2023 . Disponível em:
 https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/escolas/dia-da-consciencia-negra-como-abordar-o-tema-na-escola Acesso em: 15 de Novembro de 2023. 

DOMINGUES, Petrônio. Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos históricos. Tempo, v. 12, p. 100-122, 2007. 
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-77042007000200007 Acesso em: 14 de Novembro de 2023. 

OLIVEIRA, Josué Petrônio Quirino de. (2017). Zumbi dos Palmares: a afro resiliência. Revista Espaço Acadêmico, v. 17 , n. 197 , p. 102-113, 2017. 
Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/34903 Acesso em 14 de Novembro de 2023.

*Graduanda em licenciatura em Ciências Biológicas pela UFPB - CCA, Campus II. Bolsista do PROLICEN e Voluntária no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Recentemente está realizando pesquisa na área da educação étnico-racial no ensino de ciências e biologia.

**Lincencianda em Ciências Biológicas pela UFPB - CCA, Campus II. Bolsista do PROLICEN e ex-bolsista de extensão na área de educação. Atualmente, vem realizando estudos na área da educação étnico-racial dentro do ensino de ciências e biologia.

***Bacharela em Ciências Biológicas pela UFPB - CCA, Campus II . Licencianda em Ciências Biológicas pela UFPB. Voluntária do PROLICEN e bolsista no Programa de Iniciação à Docência - PIBID, pela UFPB

****Professora Dra. do DCFS/CCA/UFPB. Coordenadora do Prolicen “FORMAÇÃO DOCENTE NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS”. Membro do Neabi/UFPB. Doutora em Educação Escolar. Professora do DCFS/CCA/UFPB.


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Edição: Polyanna Gomes