“Seguir o caminho da esperança com a inspiração da voz e canção da Joan Baez ‘No nos moveran”.
Intento aqui apresentar alguns apontamentos diante do resultado eleitoral na Argentina com a vitória expressiva do Javier Milei, de extrema direita, e já adianto, há momentos em que o melhor a fazer é ser pessimista na análise para ser otimista na ação.
Talvez estejamos vivendo fase não da crise da democracia, mas diante de um novo tipo de cenário, ou seja, uma democracia do conflito. Na América Latina, o cenário que se esboça é o de uma região politicamente fragmentada, com uma direita tradicional fracassada e uma esquerda refém das políticas de ajuste fiscal lastreando o crescimento da extrema direita.
O cenário nos Estados Unidos, de maneira semelhante, revela uma ativa polarização entre a raiva trumpista, e a paralisia democrata e a guerra de Biden. Teremos em Trump o vencedor da eleição de 2024?
Na Europa, de uma maneira preocupante, cresce a extrema direita em Portugal com a possibilidade real de fortalecimento da maioria para governo nas eleições de março; o novo governo socialista/aliados da Espanha enfrenta o “combo” formado pela direita e extrema direita nas ruas, numa mobilização crescente podendo fazer acontecer, em breve, a queda dos socialistas/aliados.
A extrema direita voltou a crescer na Alemanha. Em 23 de novembro de 2023, a extrema direita ganharia as eleições francesas; na Itália, o atual governo de extrema direita segue com apoio popular. Vitória da extrema direita nos Países Baixos …
Na Índia, a extrema direita segue em franca ascensão e, a Rússia tampouco demonstra alternativa progressista à curto prazo. A conjuntura parece apontar para uma Europa que, nos próximos anos, poderá ser uma Europa dominada pela extrema direita e por uma direita refém de extremistas.
Há ainda uma incógnita: O que virá da China? Para além de uma potência econômica, militar, o que/como a China impulsionará de valores e liberdades democráticas? O cenário atual é de boa parte do mundo oriental representado por governos de regimes não democráticos.
O continente Africano, em cenário tão complexo quanto os anteriormente citados, tem previsão de maior crescimento populacional para as próximas décadas, com países também em crescimento econômico, mas ao mesmo tempo, seguindo com as guerras, golpes de Estado e conflitos no meio do caminho, distribuídos entre “televisivos” e “esquecidos”, ambos trazendo consigo o recurso da cultura de morte, onde o ódio e o medo jugulam os cidadãos.
Por outro prisma, Brasil, México, Canadá, e agora, o novo governo da Polônia ascendem com agendas progressista. No Brasil, em 2022, quase metade dos/as eleitores/as optaram, uma vez mais, pela extrema direita na sua versão bolsonarista, havendo uma discreta maioria dos/as eleitores/as votado pela opção progressista.
Poderia o Brasil liderar a reação progressista ou ficará refém da cartilha neoliberal para ser entregue à extrema direita?
O Brasil se converterá num pólo articulador de uma nova fase da defesa dos valores democráticos, civilizatórios e de justiça socioambiental na América Latina e no mundo, ou se renderá a uma agenda sem transformações socioeconômicas? No Brasil, o principal endereço de pressão sobre os rumos do governo Lula é o seu Ministro da Fazenda Fernando Haddad.
Nada está perdido e nada está ganho.
Esta será uma década de muita luta, de novas teorias e de novas articulações. O Brasil pode, e deve, ter um papel central por uma Agenda democrática no mundo. Entretanto, uma agenda democrática sem transformações socioeconômicas favoráveis à justiça socioambiental, não será uma agenda democrática.
Será possível revigorar a direita tradicional? O isolamento da extrema direita passa por uma direita liberal que reconquista o seu espaço, se compromete com os valores democráticos e que não ceda aos encantos da extrema direita. Seria isso possível?
A esquerda, bem como o campo progressista, precisa retomar o sonho da mudança e da transformação socioambiental protagonizando uma alternativa econômica como centralidade de uma sociedade justa, fraterna e democrática. Seria isso possível?
Nesse cenário desejável, a articulação de uma sociedade civil latino-americana capaz de conectar as lutas, movimentos populares e tantas outras formas de organização será fundamental para impulsionar uma cultura democrática que vá além das resistências, possibilitando novos caminhos pela América. Essa cultura latino-americana pode, sim, se constituir como força, resistência e fonte de novas criatividades e imaginação do futuro que virá, fazendo-o, de fato, como será, progressista e democrático.
NO NOS MOVERAN!
Caminhemos!
Roberto Jefferson Normando - Secretário do Fórum Pró Campina - Fundador e Militante do PSOL - Formação em Filosofia
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Edição: Cida Alves