Nessa última quarta-feira (13), foi comemorado o Dia Nacional do Forró. Uma data festejada desde 2005. A data também celebra o aniversário de nascimento de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
Nascido em Exu - PE, em 13 de dezembro de 1912, Luiz foi responsável pela popularização dos ritmos nordestinos que compõe o Forró por todo o Brasil, como o xote, xaxado, baião, rojão, côco, maracatu, chamego, quadrilha, o arrasta-pé e o pé-de-serra.
Seguindo o legado do pai, Januário, Luiz Gonzaga passou a herança artística para o filho, Gonzaguinha, e para o neto, Daniel Gonzaga, filho de Gonzaguinha, que é músico independente e instrumentista.
Luiz Gonzaga foi mestre e influenciou todos os que vieram após ele. Até mesmo o sobrinho do Rei, o sanfoneiro e cantor Joquinha Gonzaga, hoje com 71 anos, ganhou o primeiro instrumento do tio famoso aos 12 anos de idade.
O Rei do Baião morreu no Recife em 1989, aos 77 anos, após 50 anos de carreira e mais de 70 discos gravados. Seu legado e admiração permanecem no imaginário e na cultura popular do Brasil.
Marinês, primeira mulher a formar um grupo do gênero
Uma das precursoras do forró, com mais de 40 discos gravados, Marinês foi a primeira mulher a formar um grupo do gênero. Nascida Inês Caetano de Oliveira, em 16/11/1935, Marinês como todos da sua época, iniciou a carreira como caloura na rádio local, em Campina Grande. Já em 1949 formou, com o marido Abdias, o Casal da Alegria e sempre realizavam apresentações nas praças das cidades onde Luiz Gonzaga iria tocar.
Seu encontro com o Rei do Baião se deu na cidade de Propriá, em Sergipe. O rei lhes ensinou o xaxado e ela foi, então, batizada de "A Rainha do Xaxado".
Em 1957, gravou dois grandes sucessos, os xotes "Peba na pimenta" e "Pisa na fulô". Ainda nessa época, a convite de Luiz Gonzaga, foram para o Rio de Janeiro, onde se apresentaram no programa "Caleidoscópio", na Rádio Tupi.
Participou de filmes e ganhou diversas premiações, apresentou-se em diversos shows em teatros da periferia do Rio de Janeiro; após uma longa e frutuosa carreira, sofreu um acidente vascular cerebral no dia 5 de maio de 2007, vindo a falecer dez dias depois.
Patrimônio Histórico
Em 2021, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) declarou o Forró como patrimônio cultural do Brasil. Na época, o conselho formado por representantes de instituições públicas, privadas e da sociedade civil também elegeu o forró como um super gênero musical, por reunir diversos ritmos nordestinos, entre eles, o xote, xaxado, baião, rojão, côco, maracatu, chamego, quadrilha, o arrasta-pé e o pé-de-serra - a palavra forró pode abranger desde a música, até a dança, a cultura e as atividades ligadas a ela.
Seguindo a declaração do Iphan, recentemente (07/11), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) promulgou uma lei que oficializa o forró como uma manifestação cultural nacional do Brasil. O gênero se une a diversas outras expressões culturais reconhecidas como manifestações artísticas de origem brasileira, tais como escolas de samba e as festas juninas.
De acordo com o projeto de lei, o Forró é considerado um dos gêneros musicais mais genuinamente brasileiros, tendo suas raízes na Região Nordeste e resultando da fusão de estilos tradicionais como baião, xaxado, coco, arrastapé e xote, com uma trajetória que abrange aproximadamente sete décadas.
O forró alcançou a 12ª posição em uma lista que abrange práticas, locais e eventos oficialmente designados como manifestações culturais nacionais e/ou patrimônios culturais imateriais do Brasil desde 2010.
No Senado Federal, a senadora Teresa Leitão (PT-PE) foi a relatora. A senadora lembrou que o forró é “um gênero musical e uma dança que evoca a beleza e a riqueza das tradições do nordeste do Brasil “ e que “desempenha um papel fundamental na preservação e celebração da diversidade cultural do país”.
“Além de sua importância cultural, o forró também tem grande importância para a economia brasileira. Festivais de forró atraem turistas de todo o País e do mundo e injetam recursos nas comunidades locais, promovendo o desenvolvimento econômico dessas regiões”, afirmou ela.
O professor e especialista em história do Brasil colonial, Estevam Machado, apontou os possíveis benefícios para o gênero a partir da nova lei. Segundo ele, setores envolvidos no fomento ao ritmo musical podem ter benefícios com recursos advindos, por exemplo, da Lei Rouanet.
“Essa conquista do forró como manifestação cultural brasileira vai além do ponto de vista simbólico como valorização da cultura nordestina. Ela também aponta para a direção de políticas públicas de fomento e valorização que vão preservar esse patrimônio que está no coração, na alma do povo brasileiro”, afirmou ele.
Outras quatro manifestações culturais foram reconhecidas também este ano, como as festas juninas, as escolas de samba, o Carnaval de Novas Russas, no Ceará, e a utilização do transporte de passageiros conhecido como "pau de arara" em romarias religiosas.
Recentemente, o Dia Nacional do Coco de Roda, da Ciranda e da Mazurca foi aprovado na Câmara dos Deputados. O projeto é de autoria do deputado federal Luiz Couto (PT/PB), e institui o dia 26 de julho como marco.
Origens e transformações do forró
Segundo Estevam Machado, a palavra forró é derivada de forrobodó. Esta, por sua vez, vem de “forbodó”, que é uma adaptação para o português de uma palavra francesa: faux-bourdon. Faux-bourdon era um tipo de música tocada na Idade Média.
No Brasil, o ritmo que originou o forró foi introduzido no século XIX pelos portugueses e se estabeleceu principalmente no interior do Nordeste. Gonzagão foi um dos pioneiros na popularização do forró nos anos 1940. A música geralmente era executada com apenas três instrumentos e suas letras abordavam temas nostálgicos e regionais, com um marcante sotaque do interior.
De acordo com Machado, "só na década de 50 é que o nome forró passa a ser utilizado para o ritmo musical, e a gente deve muito isso à figura do Luiz Gonzaga com a música 'Forró de Mané Vito' que realmente criou esse gênero que é tão importante para a cultura nordestina", comenta ele.
Segundo o professor, as transformações significativas tiveram início em 1975, quando artistas populares moldaram o gênero musical para se adequar ao período e ao seu estilo de tocar. Marcava o começo do forró universitário, com um apelo direcionado ao público jovem e citadino. Este novo estilo foi difundido por Elba Ramalho, Zé Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo.
A década de 1990 marcou a maior transformação do gênero. Com a introdução de novos instrumentos, dançarinas, linguagens musicais e elementos de outros ritmos, surgiu uma nova vertente: o forró eletrônico, também conhecido como forró estilizado.
O forró continua firme, é o que afirma a presidenta da Associação Cultural Balaio Nordeste e coordenadora do Fórum Nacional do Forró, Joana Alves (PB) - ela considera que o mundo do forró tem muito o que celebrar.
“É uma resistência. O forró, além de continuar vivo, está se expandindo, dentro do país e fora dele. Eu acho que temos mesmo que comemorar já que estamos sendo reconhecidos como patrimônio imaterial brasileiro”, afirma a dirigente.
Edição: Cida Alves