Paraíba

Coluna

Os amontoados que habitam em nós na fotoperformance de Melquisedec Abrantes

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Uma das fotoperfomances da obra "Amontoados", analisada no texto. "Amontoados" fará parte da exposição "Arte do Sertão", no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), em Sousa/PB - Foto: Fita Verde Produções.
os objetos do cotidiano se alinham de maneira peculiar para dar vida às fotografias

Por Hiago Trindade*

Ao longo da história, os registros fotográficos foram ganhando cada vez mais espaço no universo artístico e passaram a dinamizar os museus, a adentrar os ateliês, a ilustrar as páginas dos livros de história e, por tudo isso, muitos deles se imortalizaram como obras de arte da maior relevância para a sociedade.

As fotoperformances, enquanto prática que busca registrar, por meio de fotografias, ações corporais do sujeito-performer para gerar os mais diversos sentimentos estéticos nos espectadores, também vêm ganhando maior visibilidade nos tempos atuais.

Melquisedec Abrantes (@melquiabrantes), artista sousense interessado nas artes visuais e nas artes da cena, utiliza-se da fotoperformance como um dos recursos para conduzir suas investigações e pesquisas em torno da relação entre o corpo e os objetos do cotidiano. Inclusive, neste próximo dia 16 de dezembro, o artista apresentará a obra "Amontoados", por ocasião da mostra coletiva "Arte do Sertão", que ocorrerá no Centro Cultural do Banco do Nordeste (CCBNB), em Sousa, no alto sertão paraibano, com curadoria de Fabiana Cordeiro.

"Amontoados" é composta por quatro sequências fotográficas que, analisadas em conjunto, levam-nos a imaginar narrativas sobre temas sociais potentes. Nas imagens geradas por Melquisedec, o corpo, a luz, as sombras, o "espaço-tempo" e os objetos do cotidiano se alinham de maneira peculiar para dar vida às fotografias.


Obra "Amontoados", analisada no texto, do artista Melquisedec Abrantes. / Foto: Fita Verde Produções.

Em uma das sequências de registros que fazem parte de "Amontoados", a foto inicial mostra o performer segurando uma pilha de roupas em sua cabeça. Elas se alinham alcançando um formato mais ou menos esférico que lembram um objeto sólido e pesado, talvez uma pedra.

A partir da segunda fotografia da série, observamos as peças de roupas deslizando pelo corpo do ator. Nesse ponto, o movimento estabelecido pela imagem provoca-nos uma sensação de liberdade, pois aquele peso que, inicialmente, estava sobre sua cabeça, já se desfez.

O mergulho nas obras de Melquisedec ocorre permeado por muitas perguntas: quais são os "objetos cotidianos" que carregamos conosco em nossa existência? Que fardos exercem peso sobre nós no dia a dia? Que formatos adquirem as "pedras" em nosso caminho? São elas pensamentos, ideias, sentimentos, tarefas intermináveis ou níveis de cobrança internos e externos que se avolumam cada vez nessa "sociedade do cansaço"?

A última foto dessa sequência não apresenta uma resposta em definitivo para essas questões, mas sinaliza, de alguma forma, para um estado de liberdade, pois sugere a possibilidade de nos livrarmos dos pesos e pedras que nos oprimem, sejam eles objetivos ou subjetivos. Que possamos, então, experimentar a liberdade. E que a arte de Melquisedec e de outros tantos artistas, possa nos auxiliar nessa tarefa!

SOBRE O ARTISTA

Melquisedec Abrantes é ator, bailarino e performer sertanejo, bacharel/licenciando em Teatro pela Universidade Federal da Paraíba. Considera-se artista do corpo e costuma integrar diversas linguagens em seus trabalhos, em sua maioria performáticos. Tem interesse em temáticas sociais, de gênero, de identidade, coletividade, dentre outros. Participou de grupos como: Teatro Oficina em Sousa-PB e Coletivo Redemoinho de Dança na cidade de João Pessoa, que foram relevantes para a construção de sua pesquisa em artes do corpo e da cena.


Melquisedec Abrantes. / Foto: Fita Verde Produções.

*Hiago Trindade é Doutor em Serviço Social pela UFRJ e professor do curso de Ciências Sociais na Universidade Federal de Campina Grande (Campus Sumé). Ainda pela UFCG, cursa o bacharelado em Arte e Mídia.

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Edição: Carolina Ferreira