Paraíba

Coluna

Um encontro com bailarinas

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Obra "Bailarina Jeronimo", de Eduardo Kobra, em Itaim/SP. Primeiro trabalho de seu projeto 'Museu Fora do Museu’. Releitura da obra "Bailarina de Catorze Anos", de Edgar Degas. - Foto: site Eduardo Kobra.
demorei um bom tempo observando aquelas bailarinas e sorrindo pelas potencialidades da arte urbana

Por Hiago Trindade* 

Às vezes, ao visitarmos um museu, ficamos encantados quando podemos observar de pertinho as obras e/ou os artistas, sobretudo, aqueles a que só tivemos acesso por meio dos nossos livros escolares ou pelas buscas na internet. Um desses artistas é o francês Edgar Degas. Ele se tornou bastante conhecido na história da arte pelas suas pinturas e esculturas de bailarinas, produzidas ao longo do século XIX. Ontem (19), no Museu de Arte de São Paulo (MASP), pude visitar "Bailarina de Catorze Anos", escultura datada de 1880.

Contudo, não estava "encantado" por ela, nem me demorei observando-a, pois ao me deparar com essa escultura, os pensamentos que me tomaram à mente foram os das histórias de abuso, violências e opressão que as adolescentes experimentaram naquela época. Além disso, também me tomou de assalto a recordação de uma das expressões que o próprio Degas utilizava para referir-se às bailarinas: "ratazanas".


Escultura "Bailarina de Catorze anos", de Degas. / Foto: Acervo do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Retirada do site do Masp.

Saí do museu mexido com o que vi, mas também atento para a “podridão” que certos aspectos da história da arte carregam (a misoginia de Degas é apenas um deles).

No dia seguinte à experiência relatada, nesta quarta-feira (20), caminho livremente pela rua e me deparo com novas bailarinas. Elas se movimentam nos muros de uma escadaria, com cores e traços vibrantes, características essas bem conhecidas do artista que as fez: Kobra.


Parte do grafite "Escadaria das Bailarinas", de Kobra. / Foto: Hiago Trindade.

Filho da periferia de São Paulo, Kobra vem desenvolvendo um trabalho bastante interessante, sobretudo, pelas dimensões da crítica ecológica e social que imprime em suas produções artísticas, espalhadas em cinco continentes do mundo.

Lá na escadaria, me demorei um bom tempo observando aquelas bailarinas e sorrindo pelas potencialidades da arte urbana em inundar-nos. Ainda me resta tempo e quero seguir encontrando mais de Kobra pelas ruas!

*Hiago Trindade é Doutor em Serviço Social pela UFRJ e professor do curso de Ciências Sociais na Universidade Federal de Campina Grande (Campus Sumé). Ainda pela UFCG, cursa o bacharelado em Arte e Mídia.

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Edição: Carolina Ferreira