Nessa segunda-feira (22), aconteceu, em João Pessoa (PB), uma reunião entre os grupos de maracatus, o diretor executivo da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) Marcus Alves, Pedro Cândido e Edson Pessoa, ambos da Liga Carnavalesca. O intuito foi dialogar sobre a inclusão dos grupos nos festejos do carnaval pessoense. Os maracatus haviam ficado de fora da programação inicial do Carnaval Tradição. Desde então, estavam reivindicando a sua inclusão.
Participaram da reunião representantes dos grupos Baque de Raiz, Baque Mulher JP, Coletivo Maracastelo, Maracatu Nação Pé de Elefante, Quilombo Nagô e Tambores do Tempo.
Com a decisão da inclusão, os grupos irão desfilar no Carnaval Tradição, que acontece na Avenida Duarte da Silveira (Beira Rio), nos dias 10 a 12 de fevereiro. Também haverá participação na abertura do Folia de Rua, no dia 1 de fevereiro, que terá show de Alceu Valença, no Bloco Muriçoquinhas do Miramar, no dia 5 de fevereiro e no Bloco Muriçocas do Miramar, no dia 7 de fevereiro.
Os grupos de maracatus já compunham o Carnaval Tradição há alguns anos. O primeiro grupo de maracatu a participar do evento foi o Nação Pé de Elefante, em 2018, em seguida foi o Maracastelo, em 2019. O Pé de Elefante participa desde 2009 das prévias carnavalescas. Este ano, não haviam sido incluídos na programação pelo presidente da Liga Carnavalesca Pedro Cândido.
“A nossa história de participação [no carnaval] sempre teve muita luta por falta de entendimento do presidente da Liga, que organizava o carnaval. Não entendiam uma nova agremiação se erguendo dentro do nosso estado”, expõe o Mestre Fernando Trajano, do Pé de Elefante.
Entenda
Nos últimos seis meses, os maracatus começaram um movimento de união e elaboraram uma proposta coletiva, de ampliação, inserção e intervenção dos grupos no carnaval. O objetivo era garantir a apresentação culturais de todos os grupos, além de indicar diferentes formas de participação dos maracatus na programação do carnaval. O projeto cultural, que foi enviado à Funjope no dia 11 de janeiro, incluía um encontro dos maracatus na abertura do carnaval, a participação de todos os grupos nos blocos do Via Folia e no Carnaval Tradição.
“Quando fomos levar a proposta para o Marcus Alves, fomos pegos de surpresas. Ele nos informou que a Liga Carnavalesca não havia nos colocado na programação da abertura do Carnaval Tradição este ano”, conta Angela Gaeta, Mestra do Maracastelo, primeiro do estado a ter como mestra de percussão uma mulher.
A retirado dos grupos de maracatus do carnaval tradição afetou e afetaria, caso tivesse sido dado continuidade ao processo de exclusão, a preparação que é feita durante todo o ano para o carnaval.
“De uns anos para cá, os maracatus já se organizam com antecedência, se preparando para o Carnaval Tradição, que é uma apresentação que requer maior investimento, porque a gente quer ir grande para a avenida, para preencher essa avenida. Passamos a investir mais em indumentárias, adereços e instrumentos e atividades durante o ano”, relata Angela.
De acordo com Cinthia Araújo, membro da diretoria do Quilombo Nagô e militante do Movimento Brasil Popular, o maracatu nunca foi convidado pela Liga Carnavalesca, mas sim sempre teve que solicitar a participação.
A Liga Carnavalesca, responsável junto à Funjope de montar a programação do carnaval de João Pessoa, apenas convidou o grupo Quilombo Nagô e o Cortejo de Oxalá – este último não é um grupo de maracatu, mas sim um cortejo afro – para participar da programação do Carnaval Tradição.
No dia seguinte do envio do projeto, o presidente da Liga Carnavalesca Pedro Cândido, entrou em contato com o Mestre Marcílio Alcântara, do Quilombo Nagô, convidando o grupo para a abertura do Carnaval Tradição. Tendo em vista, a movimentação coletiva que estava sendo organizada pelos maracatus, o Mestre Marcílio lançou uma nota de repúdio negando o convite, já que “o método utilizado para realização deste chamado, feito pelo presidente da Liga Carnavalesca, Pedro Cândido, desconsidera a organização coletiva dos grupos de maracatu da cidade”, pontua a nota.
Marcus Alves comenta que “a Funjope vem trabalhando desde o carnaval do ano passado para inclusão dos maracatus nos Festejos do Carnaval Tradição e na própria Folia de Rua. Em 2024, mantivemos a mesma atitude. Fizemos várias reuniões com os nossos maracatus e eles todos se sentem incluídos e estimulados não apenas no Carnaval, mas em outros momentos de nossas ações culturais”. A Funjope foi a mediadora entre a Liga Carnavalesca e os grupos de Maracatu, no intuito de exercer o papel que cabe à fundação, para que os grupos fossem inseridos na programação.
O Brasil de Fato PB entrou em contato com a Liga Carnavalesca, mas não obteve retorno com uma posição.
História do Maracatu
O Maracatu surgiu em Pernambuco, na metade do século XVIII durante o período escravista. No contexto da história dos maracatus na Paraíba, Ademar Vidal (1897-1986) escreveu A tradição do Maracatu. Segundo Regina Negreiros, doutora em Ciências das Religiões, o autor afirma que existia maracatus na Paraíba desde o início do século XX e que se findaram na Paraíba, devido à perseguição da polícia. O autor revisita, entre as décadas de 1920 e 1940, as práticas e os costumes afro-brasileiros.
De acordo com Regina, o maracatu ressurge, através de tentativas de grupos de música popular e regional que tocavam maracatu, na Paraíba, com a explosão do movimento manguebeat na década de 1990 e 2000. Atualmente, existem grupos que têm uma história no cenário pessoense.
Os maracatus da Paraíba são de baque virado. São eles: Baque de Raíz, Baque Mulher JP, Coletivo Maracastelo, Filho de Seu Zé (do município de Puxinanã), Maracagrande (de Campina Grande), Nação Pé de Elefante, Mar de Luanda, Quilombo Nagô e Tambores do Tempo.
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Edição: Heloisa de Sousa