O que significa ser estudante indígena na Universidade?
Por Luz Santos*
Neste Abril Indígena, a Comunidade Colaborativa de Mulheres Afro-brasileiras e Ameríndias – COCAM homenageia os/as estudantes indígenas da Universidade Federal da Paraíba-UFPB/Campus IV em meio a percepções sobre significados de lutas desses corpos na universidade, como ação para o Bem Viver.
Na UFPB/Campus IV, o curso de Secretariado é o terceiro bacharelado com maior número de estudantes indígenas, em sua maioria Potiguara, o que representa 11,36%. A localização do campus no litoral norte contribui para tal presença. Entretanto, na memória da expansão universitária, a luta de importantes lideranças indígenas ecoa a existência do Campus IV. Mas, o que significa ser estudante indígena na Universidade?
A formação acadêmica pluriversa potencializa a concretude de um mundo do trabalho com profissionais plurais, desde a reafirmação de subjetividades indígenas em meio a inter-relações com subjetividades negras. No território acadêmico, homens e mulheres indígenas mobilizam a cultura indígena, desconstruindo percepções padronizadas e racistas sobre um lugar único e pré-determinado aos corpos indígenas. Na experiência da COCAM, contribui para tal desconstrução as formas Potiguara de ver e sentir o mundo, assim como suas lutas.
Nesse sentido, a estudante Emylle Suellen da Silva Rodrigues diz: "nosso povo não apenas contribui de forma cultural para a sociedade, contribui ativamente também na economia, na arte, na natureza, na expansão de conhecimentos. Somos resistência daquilo que outros tentaram e ainda tentam destruir. Ser estudante da universidade pública é trazer tudo isso para este âmbito acadêmico, buscando expandir o que o nosso povo tem para oferecer. Esta ocupação foi resultado de uma árdua história!"
A ocupação citada por Emylle Rodrigues reflete a urgência da universidade em constituir-se como território de saberes. Corpos-território demarcam a universidade com a cultura indígena Potiguara por meio de memórias e práticas ancestrais, mesmo diante de um ambiente acadêmico no qual subjetividades negras e indígenas ainda são tímidas quanto à permanência.
Os saberes Potiguara necessitam estar também nas ementas e referências bibliográficas, sem cair na lógica do produtivismo acadêmico, pois como diz Nayara Lima da Costa: “Ser estudante indígena na universidade é importante, pois é onde temos a geração de conhecimentos, culturas vividas em uma só sociedade e parte do que somos, e um pouco da nossa convivência."
Desse modo, percebe-se como possível coconstruir um sentido epistêmico para a permanência indígena, a exemplo das práticas extensionistas na COCAM - ambiência para o Bem Viver. Em meio aos racismos e as colonialidades, manter a inter-relação entre negros/as e indígenas, cuidar e respeitar a natureza e a Mãe Terra mediante ensinamentos cosmológicos e práticas de espiritualidade desde as memórias dos troncos velhos apresenta-se como ação para o Bem Viver. Ou seja, uma interface de interdiálogo frente a uma construção política sobre o significado de ser estudante indígena na Universidade.
Saudações a todos/as estudantes indígenas por suas lutas e resistências, dentro e fora do ambiente acadêmico. Que sigam no caminho protagonismo!
*Luz Santos é Professora Adjunta da UFPB, integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiros e Indígenas – NEABI/CCHLA-UFPB, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas É’LÉÉKO e cocriadora da Comunidade Colaborativa de Mulheres Afro-brasileiras e Ameríndias – COCAM (@recosec.ufpb).
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato PB.
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Edição: Carolina Ferreira