Dia 5 de novembro de 1993, estava em viagem com meus pais na cidade de Carpina - estado de Pernambuco - recordo estar brincando com meu irmão quando ouvimos a chamada do plantão da rede globo. Todos pararam para ver o que tinha se passado em algum lugar do país, alguma tragédia com certeza teria ocorrido e para minha surpresa a chamada fazia menção a um fato ocorrido na minha Paraíba. Sendo fiel à manchete, observe: “Governador da Paraíba atira em adversário”. Logo após a notícia, as pessoas que estavam no hotel começaram a comentar sobre o estereótipo da violência na Paraíba, frases do tipo: “terra de cabra macho”, “lá ou é na facada ou na bala” era o que mais se ouvia. Com o intuito de resgatar uma passagem da história da paraíba, principalmente para as novas gerações, vou esclarecer o que ocorreu.
Vamos direto à história, sem muito “arrodeio”. Na época, governador da Paraíba, Ronaldo da Cunha Lima, atirou no ex-governador Tarcísio de Miranda Burity, no restaurante chamado de Gulliver, no bairro de Tambaú, na capital paraibana. Segundo as fontes e testemunhas, o atentado teria ocorrido porque o ex-governante Burity teria feito críticas a Cássio Cunha Lima - filho do então governador - em rede de televisão local e por esse motivo o pai foi proteger o filho, ou melhor, o coronel foi proteger a oligarquia. Por sorte, a vítima conseguiu sobreviver e acabou falecendo dez anos depois, já o atirador prosseguiu na sua vida politica sendo venerado e aclamado pelos seus fiéis eleitores que criaram a narrativa de um pai apaixonado defendendo sua cria.
Essa passagem da História Paraibana, vez por outra, volta a ser noticiada e, da última vez que veio à tona, neste ano de 2024, o neto do ex-governador Ronaldo Cunha Lima, o ex-deputado federal, Pedro da Cunha Lima, escreveu um verso para defender a memória do avô, intitulado “Soneto à Covardia”, segue trecho: “mais respeito a história da cidade, ao descanso dos que estão na eternidade, e se elevam na sua afronta leviana”. Queria lembrar ao nobre deputado que esse texto só existe porque seu avô atentou contra a vida de outra pessoa. É fato que ele está na eternidade, não tem como se defender, até porque, mesmo em vida, utilizou-se de todas as manobras, brechas jurídicas e políticas possíveis para não ser julgado, como de fato não foi. Foi para a eternidade impune, pois no nosso Brasil, ex-governadores, donos de Porsche e herdeiros de redes de televisão conseguem partir sem pagar pelo crime cometido em vida.
*Rafael da Silva Virginio é professor de História.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato PB.
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