O Quilombo Pedra D’água, localizado em Ingá (PB), vai receber o 1º Encontro de Capoeiras, Terreiros e Quilombos da Paraíba nesta sexta-feira (17) e sábado (18). O evento, que será aberto ao público, busca enfrentar o racismo nas suas diversas facetas, unindo oficinas, debate e apresentações culturais, em uma perspectiva de promover a troca de conhecimentos.
A realização do encontro foi articulada por Maria José Firmino da Silva, mais conhecida como Pretinha, uma liderança comunitária do Quilombo Pedra D’água. Pretinha, atualmente, é vice-presidente do Conselho Municipal de Igualdade Racial de Ingá e participa da Coordenação Estadual das Comunidades Negras e Quilombolas da Paraíba (CECNEQ-PB), além de ser da diretoria da associação da comunidade.
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"Como mulher preta e moradora da comunidade quilombola Pedra D'água, esse evento representa uma oportunidade única de celebração da nossa cultura e resistência. Estamos ansiosos para compartilhar nossos saberes, fortalecer os laços com outras comunidades e promover a valorização da nossa história. Tenho certeza de que será um momento de muita troca e aprendizado para todos nós. Estamos muito animados e esperamos que o evento traga visibilidade e reconhecimento para o Quilombo Pedra D'água e para todas as comunidades quilombolas", comenta Pretinha.
O advogado e integrante do Fórum de Negritude da Paraíba, Pablo Honorato, que está na coordenação de produção do evento, cita o racismo institucional e o seu entranhamento em diferentes espaços sociais, como dentro de casa, na igreja, na escola, no trabalho, na universidade e até em hospitais.
“O nosso querido Escurinho Badauê [Alberto Antônio dos Santos Silva] foi vítima de racismo institucional dentro de um hospital. Então, imagine a fatalidade que é ser vítima de um sistema de exclusão com base na cor da pele, e que triste que é uma sociedade que ainda não venceu as sequelas da escravidão. Que terrível é para a vida de famílias que vivem nas favelas, sendo vítimas de violência policial, sendo vítimas de exclusão. Tudo isso para nós é revoltante, é indignante e a gente tem que se organizar. Esse evento é uma forma de organização de toda a bela cultura negra que nós temos dentro dos terreiros, dentro das capoeiras, dentro dos quilombos”, ressalta.
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O encontro é realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura (Secult-PB), do Governo da Paraíba. Na construção do encontro, houve articulação com o Fórum de Negritude da Paraíba, com capoeiristas e casas de terreiros. Para Pablo Honorato, uma das maiores “preciosidades” do evento são as oficinas.
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“Nós vamos ter oficinas, inclusive, ministradas por ogãs, que é o caso do Fagner, do projeto Ilù Odara, que está contribuindo também com uma oficina de atabaque. Temos também o Lucivan Laranjeira, que vai ministrar o toque de capoeira, de instrumentos de capoeira. A Fernanda Moranguinho, que é do Quilombo de Paratibe, também vai participar ministrando uma oficina de maculelê. Nós temos pessoas da comunidade de Pedra D’água também mobilizadas e envolvidas no evento com as oficinas de labirinto, penteados afros. Então, vai ser bastante rico. Vai ter oficina de acarajé. as oficinas são talvez uma das grandes preciosidades desse evento. Uma oportunidade de repasse de saberes e a gente acredita muito nisso na valorização, na salvaguarda do patrimônio imaterial”, enfatiza.
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A ideia da realização do encontro nasceu a partir do contexto deixado pelo governo Bolsonaro, conforme explica Pablo Honorato. “Nós tivemos um governo federal que foi bastante excludente, bastante violador de direitos, eu diria até que o presidente Bolsonaro teceu inúmeras declarações racistas, enquanto candidato e enquanto presidente, só para lembrar aquela fala a respeito dos quilombolas que se pesariam em arroba”, comenta.
Ele ainda acrescenta que o objetivo do evento é combater o senso comum, práticas discriminatórias que existem contra a capoeira, quilombos e terreiros. “Lutar pela causa negra, é lutar pela vida”, afirma.
Dados do evento
Evento: 1º Encontro de Capoeiras, Terreiros e Quilombos da Paraíba
Data: 17 e 18 de maio de 2024
Local: Comunidade quilombola Pedra D'água, Ingá (PB)
Horário: das 8h às 21h
Programação completa
Sexta-feira (17/05/2024):
8h – Abertura da exposição Afrobrasilidades no Acervo do Museu da Abolição de Recife
12h - Abertura e credenciamento: Recepção dos participantes a partir das 12h
14h-15h: Mesa de Abertura: Negritude e organização política (Pretinha e Pablo)
15h-16h: Debate: Mulher, Racismo e Sexualidade (Carla Uedler)
16h – 17h: Debate: Capoeira e História (João Pitoco)
17h-18h: Debate: A situação dos quilombos na Paraíba (Francimar - AACADE)
18h – Olodumatão
19h - Grupo Pérola Negra (público infantil)
20h - Coco Novo Quilombo de Ipiranga
21h - Escurinho e Banda Labacé
Sábado (18/05/2024):
08h - Credenciamento e café da manhã
Oficinas
09h - Início das oficinas
• Oficina de Coco de Roda (Zé Silva)
• Oficina de Labirinto (Marta)
• Oficina de Atabaque (Fagner e Pai Renato)
• Oficina de Penteado Afro (Vitória)
• Oficina de Ritmos de Capoeira Angola e Musicalidade (Lucivan Laranjeira)
• Oficina de Maculelê (Fernanda Moranguinho)
• Oficina de Acarajé (Kleide Teixeira)
12h - Almoço
14h-18h: Continuação das oficinas.
• Oficina de Coco de Roda (Zé Silva)
• Oficina de Labirinto (Marta)
• Oficina de Atabaque (Fagner e Pai Renato)
• Oficina de Penteado Afro (Vitória)
• Oficina de Ritmos de Capoeira Angola e Musicalidade (Lucivan Laranjeira)
• Oficina de Maculelê (Fernanda Moranguinho)
• Oficina de Acarajé (Kleide Teixeira)
18:30 - Programação Cultural
18h30 - Coco de Roda e Ciranda de Caiana dos Crioulos
19h30 - Capoeira Angola Comunidade (Mestre Naldinho)/Capoeira Baiana (João Pitoco)
20h - Orquestra de Música Negra da Paraíba
21h - Encerramento do Evento e Considerações Finais
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Edição: Heloisa de Sousa