Julho das Pretas é uma ação de incidência política
Por Luciene Tavares da Silva Lima* e Marina Prado Santiago**
A Organização de Mulheres Negras de Caiana (OMNC), localizada na Comunidade Quilombola Caiana dos Crioulos, em Alagoa Grande (PB), fundada em 2005, tem seus trabalhos voltados para o enfrentamento ao racismo, em prol do bem viver, da saúde da população negra e diversas pautas relacionadas ao povo negro e quilombola.
O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha teve sua origem em 1992, na República Dominicana instituído pela Organização das Nações Unidas- ONU, no 1º encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Caribenhas.
Em junho de 2014, no Brasil, a Lei nº 12.987 institui o 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza foi uma mulher negra quilombola e é um símbolo de resistência.
A OMNC, filiada à Rede de Mulheres Negras do Nordeste, desenvolve suas atividades relacionadas ao 25 de julho assim que o estado da Paraíba começou a desenvolver as atividades voltadas para este dia, em parceria com a Bamidelê - Organização de Mulheres Negras na Paraíba.
Em 2014, participou da agenda política de ações afirmativas na Paraíba como também dos encontros de preparação da I Marcha das Mulheres Negras, que ocorreu em Brasília, em 2015.
: Memórias quilombolas: conheça a Mestra Edite, da comunidade Caiana dos Crioulos :
Atualmente, a OMNC tem sua agenda pautada durante todo o mês de julho ao Julho das Pretas (criado pelo Instituto da Mulher Negra - ODARA). Assim, são desenvolvidas diversas atividades com foco na luta das mulheres negras.
Levando em consideração todos esses anos de lutas, é importante ressaltarmos que o Julho das Pretas é uma ação de incidência política com atividades, nas quais os movimentos de mulheres negras são fortalecidos em suas ações de políticas coletivas, suas autonomias em diversas pautas, pelo bem viver na sociedade, seja no âmbito educacional, saúde, social, mercado de trabalho entre outros.
Dessa forma, a OMNC desenvolve, no Julho das Pretas, ações voltadas para a saúde da população negra, as doenças que são mais propícias ocorrerem em pessoas negras, como a anemia falciforme, hipertensão arterial, miomatose. São atividades desenvolvidas por meio de rodas de conversas, oficinas, palestras e atos nas ruas.
Na educação, trabalha-se acerca da implementação da Lei.10.639/003 nas escolas, o enfrentamento ao racismo na sociedade, também na valorização cultural da população negra e quilombola, desenvolvendo atividades formativas com docentes, contações de histórias e valorização cultural local.
Atualmente, a OMNC está desenvolvendo um projeto de Incidência Política, com os jovens da comunidade, e iniciará em agosto deste ano a Formação para os professores, gestores, equipes técnicas e pedagógicas que atendem a EMEIEF. Firmo Santino da Silva, escola Quilombola de Caiana dos Crioulos, um trabalho voltado para o Plano Nacional de Educação (PNE) e as Relações étnico-raciais, apresentado e aceito por todo coletivo escolar e comunitário, além de uma sala de leitura que homenageia a liderança quilombola e atual presidenta da OMNC, professora Luciene Tavares. Na sala constam obras baseadas em materiais afrocentrados que trabalham a ancestralidade, pertencimento étnico-racial e quilombola, a história do povo negro no Brasil e em África. O projeto tem o apoio do Instituto Odara e Imagnable Futures e também da Casa Sueli Carneiro.
As mulheres que compõem a OMNC [...] anunciam outros modos de vida, capazes de desafiar, alterar e desconstruir as interpretações e significados estabelecidos pelos discursos sociais
As mulheres que compõem a OMNC, por meio de seus conhecimentos e ações, anunciam outros modos de vida, capazes de desafiar, alterar e desconstruir as interpretações e significados estabelecidos pelos discursos sociais que mantêm hierarquias baseadas em classes sociais, raça e gênero, desestabilizando-as. Ao reinterpretarem e atribuírem novos significados às tradições, a partir de suas práticas, gestam espaços outros de subjetivação que são, por sua vez, capazes de anunciar novas-outras possibilidades e assim aliviar as dores resultantes do racismo e reconstruir laços sociais e culturais.
Esse movimento é uma espécie de resposta às formas de opressão, na tentativa de ser cura para os danos causados por experiências traumatizantes, além de reconstruir laços com base em novos entendimentos do ser-quilombo e viver-quilombola. Logo, a participação nas atividades comunitárias, como no projeto de turismo Vivenciando Caiana, da OMNC, por exemplo, torna-se importante instrumento para enfrentar e curar os traumas, pois encontra ali espaço para se encorajar, elevar a autoestima, lutar e denunciar as violências vividas, por uma sociedade mais justa, igualitária e equânime.
*Luciene Tavares da Silva Lima é mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Formação de Professores (PPGFP) da Universidade Estadual da Paraíba. Coordenadora do Projeto Vivenciando Caiana, Quilombo Caiana dos Crioulos - Alagoa Grande (PB). É presidente da Organização de Mulheres Negras de Caiana, membro da Rede de Mulheres Negras do Nordeste, poetisa, supervisora na Rede Municipal de João Pessoa, em Escola Quilombola Prof.ª Antônia do Socorro Silva Machado. E-mail: [email protected]
**Marina Prado Santiago é doutoranda em Antropologia Social pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (PPGA/UFPB), obteve o título de mestre pelo mesmo programa. É Integrante da Organização de Mulheres Negras de Caiana (OMNC). E-mail: [email protected]
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Edição: Carolina Ferreira