Descobrindo a roda, o mecanismo
Um tino, aquilo que posso chamar de estalo. Sei que toda generalização é burra, é perversa em seus maniqueísmos e é antônima ao pensamento decolonial, mas ponho aqui no tático esquema de pensamento a questão mor, majoritariamente, coloco como facas de sílex em carne a questão dos ultranarcísicos de protossuperioridade em voga, pois não vou adentrar nas questões de ressignificação do conceito da brancura, do amigo branco, do grupo branco, “aliado” ou não (instituições também) ou das partes onde se faz parte da branquitude, falo aqui do ímpeto para além da casualidade.
Existem teoricamente já grafadas e já estudadas as teorias de pactos narcísicos, principalmente em pedra filosofal dessa amplidão toda a ideia de pacto difundida por Cida Bento, que vim conhecer há pouco tempo, quando me debrucei a escrever esse texto, logicamente conheci também as outras ramificações quais não cheguei a abrilhantar todas em meu cume de ideias e sei apenas do básico abordado, porque por saber já torna à tona o véu assustador do meu próprio estalo.
O mecanismo
Eis a protossuperioridade, pois a superioridade de fato não se deve existir ao idealizarmos que cada vez mais devemos internalizar que as pessoas de cor também devem ser vistas como pessoas, já que a maioria da gente no fundo se oprime e se animaliza pelo eco do que nos fizeram.
Sim, existem hierarquias brancas, pessoas brancas com e sem o básico, pessoas brancas muito ricas e muito pobres economicamente na per capita (idem), mas o fato é que esmagadoramente todas desfrutam de um privilégio único que é a predileção frente a alguém de cor, não só apenas a predileção em quase tudo sobre as pessoas de cor, mas também nas coisas que atravessam o sentido da autopatrulha ideológica das pessoas não-brancas ao agirem para com as pessoas brancas principalmente na cautela do que falar, do que fazer, no modo como se portar e até como mascarar o máximo de uma cultura X (ou mistas culturas não-padrões) para apresentar-se aparentemente social para se fazer “sociável” aos padrões do etnocentrismo Y deles, muito além do piramidal básico onde nos guinamos ao olhar nas entrelinhas do sentir, no que se é do homem branco cis assumindo a liderança social por aquilo que foi automaticamente construído por eles mesmos. Eis a protossuperioridade, pois a superioridade de fato não se deve existir ao idealizarmos que cada vez mais devemos internalizar que as pessoas de cor também devem ser vistas como pessoas, já que a maioria da gente no fundo se oprime e se animaliza pelo eco do que nos fizeram.
Não quero cair em relatos pessoais frente a este texto, pois a memória é nunca afetiva e engatada ao escrever opiniões, justamente por isso podem me fazer tirar o foco no revoltar-me ao escrever algo ultratendencioso, muito menos cair na cilada de um pensamento de alvo qual seja apenas meu, por isso cito ao título o que aprendi quase sozinho e posteriormente revi e revivi em teoria basal essas configurações.
O sentir se difere do achar
Desde que me entendo por gente tenho me posto como alguém que pensa, que emite opiniões me baseando em perspectivas de vida: aprendi desde cedo que não basta apenas ter opiniões concisas em demonstrativas visões de mundo, pois sempre o fenótipo inconscientemente pesará para eles: os da branquitude.
Não existem pessoas de cor independente da sua classe social que estejam livres de marginalizações relacionadas aos seus corpos-pensamentos em estereótipos.
Independentemente, o poder aquisitivo, controverso e esmagador para quem sonha com ideologias básicas como a igualdade/equidade pode ser um ideal satisfatório ao colaborar com uma visão interessante de junção antirracista, por outro lado, não existem pessoas de cor independente da sua classe social que estejam livres de marginalizações relacionadas aos seus corpos-pensamentos em estereótipos.
Piramidal, novamente friso.
É imposto a nós nos vermos no lugar de servidão e de escambo, desde a colonização.
Uma canseira no repetir, um cansaço a se calar na ideologia imposta, imposição da inconsciente submissão e bestialização dessas pessoas sobre nós qual aplaudem suas próprias opiniões, para além de questionar nossas experiências em debate, em fala, em vida.
"O racismo quando não nos mata, nos torna inseguros" e por extensão disso temos medo da não aceitação em meio a um grupo majoritariamente branco onde achamos que pertencemos e isso é uma das armadilhas sistêmicas que nos jogam a todo momento em um lugar de vulnerabilidade psicológica quando acontece.
Devemos entender que as pessoas de cor e seus descendentes (especialmente em casos urbanos, por terem historicamente sido desprovidas do senso de levante, empoderamentos e orgulho de si, no que a herança colonialista nos fez perder muito do elo importante das matrizes de ancestralidade) foram silenciadas principalmente pelo senso de purificação não apenas cristão, mas compactuado narcisicamente e não podemos culpabilizar os nossos que são desprovidos do acesso a esse determinado “levante” pessoal decolonial, pois além de nossa cultura ter sido demonizada, apropriada, esbranquiçada e afundada, fomos jogados ao véu da negação do pensamento, mas nunca deixamos de pensar, sobretudo lutar.
Intuição e atitude é tecnologia ancestral e essa ancestralidade, por mais que seja vinda de um ponto não visível ou visível demais é também o futuro e também é o mais avançado dos mais avançados conhecimentos onde o sentir se difere do achismo, o achismo é uma pressuposição que é advinda de fenômenos de presunção, já o sentir é uma percepção de sensibilidade ao olhar determinante para um meio que há na ciência das coisas nossas, in natura e aprendida ao longo da sabedoria na nossa existência, principalmente no ato de perceber nosso arredor pela própria natureza das coisas, não é à-toa que tentaram fazer de nós falsos cientistas vetando nossa comunhão com nossos irmãos e parentes, porque, na verdade o que existe são ciências e não a ciência e eu tenho direito de falar assim da própria ciência, mas se chamá-la apenas de cientificismo não soma, digo acá, corrigindo que o que existe é plural e não etnocêntrico.
Todo e qualquer levante das pessoas de cor ao expressarem seus sentimentos mais “recalcados” e fundos na amálgama dolorosa do que foi retido ao longo das suas existências naquilo que foi sempre dado como ínfimo e subjugado no arcabouço racista e dado como vitimismo, “paranoia” ou mania de perseguição psico-socio-institucional ao falar o que pensam e levadas a escutarem que isso se demonstra como ódio para as pessoas não brancas, principalmente quando é pela oralidade, insinuada grosseira, quando grafada, postulação odiosa e até mesmo preconceituosa/reversa no qual se opta por culpabilizar-nos, ou até mesmo nos obrigando a relativizar nossas falas e lugares ao ponto de nos fazer humanizar quem não nos humaniza e não generalizar nosso discurso para que as pessoas brancas não se sintam magoadas com o pretexto de que também são sentimentais e humanos, porém o advindo do porém:
Quando fui humanizado de fato em todos os aspectos (livre cem porcento do racismo entre e intra-ideias nas camadas mais abissais de pensamento, consciente ou não)? Quantas vezes fomos pessoas silenciadas/tivemos opiniões repetidas por outras bocas alvas-mais-que-a-neve para que o mundo prestasse atenção no dito?
A maioria esmagadora nos enxerga inconscientemente servil e abaixo
Friso que não estou aqui para condenar as relações baseadas nas vantagens mútuas, baseadas no prazer mútuo, baseada na admiração (persona-persona para além) mútua num lugar para com pessoas brancas, mas sempre há de se reaver em exercício, pois a maioria esmagadora nos enxerga inconscientemente servil e abaixo, velado, desalento.
Ilha das flores da persuasão
Faz-se necessário debruçar-se sobre o antirracismo dissolvendo ao máximo o racismo:é de estrita importância que o pensamento antirracista e decolonial se explane, se venha e seja almoçado, jantado e servido em banquetes, de herança e por herança, não só apenas pelas pessoas que pregam um antirracismo, mas também pelas pessoas de cor, pelos educandos, educadores, pelas pessoas de alta renda e baixa renda, pelas pessoas de arte, pelas pessoas do esporte, pelas pessoas que vivem realidades opostas e paralelas, por pessoas que se encontram e debatem a vida, por todas as pessoas no geral e para todas as vidas, pois ser antirracista não é um favor ou algo notável, é um dever de todos, assim como devemos nos preocupar com demais outras causas sociais, porque não é apenas um decoro, mas sim uma prática social advinda do coração para corações, é sinônimo de melhoria individual e social. As práticas antirracistas são um caminho para a liberdade das pessoas de cor, talvez um dia o ser humano possa ser livre novamente dessa lástima em retrucadas veias contra a hegemonia, hegemonia essa que é branca e estritamente selvagem-capitalista.
Sim, acredito que pessoas brancas podem dissolver mais o seu racismo, mesmo que o racismo embora sejam práticas mínimas vista por elas, continuam por surfar, por mais que não entendam ou superintendam, por mais que queiram ou não queiram em seus privilégios de sua manutenção.
Mas os antirracistas são de fato antirracistas?
Há claro quem tente dissolver mais o seu racismo de coração puro, isso é mais que válido, porém também existem casos que o racismo trama por si só no indivíduo uma culpa, chorando o choro da culpa e do privilégio e é nesses casos que nascem o choro do “antinarciso antirracista”, sendo como posso chamar os protolibertários, que, na verdade, são narcísicos racistas levando as pessoas a se comoverem mais ao chamar atenção das maiorias das pessoas com sua dor de culpa, levando também a se culpabilizar de menos e até ser acolhido por pessoas de cor, porque a simulação de um mundo protolibertário há de se colher um recolhimento social/financeiro, pois o velamento do racismo é útil para quem depende de alguma forma do social, justamente porque é nele qual se forma alguma fonte de colheita, levando em consideração que os não-velados ou são por natureza frios e ultranarcísicos/estão ocupando uma determinação social altíssima em grau econômico e político ao ponto de não precisarem de uma opinião popular/grupos… o fato é que está cada vez mais difícil de saber quem simula e quem sente, mas só quem sente de fato é quem, na maioria das vezes, sabe distinguir numa tacada só com a intuição, a tecnologia ancestral citada, porque o problema não está no que grita, mas sim o que beija.
Logus: tome um banho sobre o sono matinal
Deixando quieto todas essas confluências de indagações, sim, há muito o que ser feito, e há muito a ser combatido e quando os corações se unem por uma causa translúcida em combate ao racismo, todos ganham, nada se perde e tudo se transforma, novamente a paráfrase.
*Rhudá tem 27 anos, nasceu em Corumbá (MS), radicado em Parahyba aos quatro anos de idade é um escritor-poeta, artivista, performer, cantautor, instrumentista e artista visual.
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Edição: Carolina Ferreira