Por Paulo Romário de Lima*
“Saúde é a capacidade de lutarmos contra aquilo que nos oprime"
Este texto é um misto de sentimentos, relatos e agradecimentos de todo o processo dos Agentes Populares de Saúde do Campo (APSC), na Paraíba.
Em 2020, enquanto se dizia que era uma gripezinha, em que centenas de pessoas morriam diariamente sem respirar e de fome, o MST decidiu por fazer quarentena produtiva e com nossa solidariedade ativa, salvar vidas.
Salvar vidas da fome e do vírus!
Começamos articulando uma grande rede que contava com sindicatos, setores da igreja, professores, professoras, movimentos sociais e Ministério Público Federal com o objetivo de doar o leite fraterno às famílias carentes de Campina Grande e João Pessoa, mas logo vimos que apenas isso não seria o bastante.
Aprendemos com Marilene, uma incansável defensora do direito à vida plena que: “saúde é a capacidade de lutarmos contra aquilo que nos oprime”. A partir daí, iniciou-se os Agentes Populares de Saúde, tínhamos a missão de nos cuidarmos e cuidar daqueles e daquelas que eram violentados diariamente por desinformações, negacionismo e obscurantismo.
Para tanto, era fundamental irmos à procura da ciência e das suas respostas para enfrentar a maior pandemia da história. Depois de reuniões e estudos, estiveram conosco profissionais da saúde e da ciência construindo as formas para cuidarmos do povo com segurança. Precisamos mencionar e agradecermos à professora Flávia Mentor e Ana Elisa da UFCG, ao professor Felipe Proenço, Luciano Bezerra e à professora Sarah Segalla da UFPB, por sempre estarem desde os primeiros dias conosco, pensando nas ações e seguindo os ensinamentos de Che: "para ouvir o coração de um povo não precisa ser médico, basta ter um bom coração".
Como não lembrarmos da incansável professora Luciana da UFCG, por todo o seu empenho, cuidado e sensibilidade na defesa das vidas humanas.
Entre tantas mãos fraternas, que logo se transformaram em solidárias, se somaram estudantes, professores, médicos, enfermeiros, sindicalistas, lutadores e lutadoras do povo paraibano que se recusaram a aceitar da janela de casa ver o nosso povo virar estatísticas de mortes pela televisão.
Assim, com todo o espírito de solidariedade e generosidade, visitamos as periferias de Campina Grande e João Pessoa distribuindo máscaras e álcool em gel, conscientizando as famílias sobre os cuidados da COVID-19, a defesa do SUS e fazendo doação de comida oriundas dos roçados coletivos e solidários do MST, pois “gente é para brilhar e não para morrer de fome”.
: Agentes Populares de Saúde promovem ato de solidariedade em defesa do SUS em Campina :
Mas também percebemos, durante esse processo, que precisávamos cuidar das nossas famílias assentadas e acampadas, por isso, iniciamos as primeiras turmas de APSC no Litoral e na Várzea paraibana. O assentamento Tiradentes em Mari, historicamente marca definitivamente o fincar da bandeira vermelha na Várzea paraibana. Também foi lá que iniciamos as nossas primeiras turmas, depois expandimos do Litoral ao Sertão. A partir disso, levamos conosco os profissionais da saúde, visitamos e desenvolvemos ações de cuidados coletivos em assentamentos e acampamentos, casa por casa, barracos por barraco, formando APSC com humildade e dedicação zelando o que há de mais precioso: as vidas humanas!
A nossa saúde é feita pelo conhecimento ancestral das ervas e plantas sagradas que curam o nosso corpo e nos põem de pé e em movimento.
Acreditamos numa saúde integral e preventiva. Uma saúde que tenha na sua centralidade a defesa da vida. E isso se expressa na luta pela terra, na luta contra os agrotóxicos, na preservação ambiental e na produção de alimentos saudáveis. Mas, a nossa saúde é feita pelo conhecimento ancestral das ervas e plantas sagradas que curam o nosso corpo e nos põem de pé e em movimento.
Também entendemos que a promoção da saúde acontece organizando o povo, formando e com o povo em movimento nas trincheiras da luta. Foi assim, que em parceria com a Fiocruz, entre 2021 e 2022, formamos mais de 30 Agentes, percebemos a grande quantidade de conhecedores e conhecedoras das ervas e das plantas medicinais, intercambiamos conhecimentos, solidariedade e uma grande mística de cuidado com o povo.
Abrimos cozinhas populares e solidárias, o leite fraterno se tornou mãos solidárias, fizemos marchas, ocupamos, barramos despejos e, em movimento, estabelecemos parcerias com a Escola de Saúde Pública (ESP-PB), formamos mais 130 Agentes Populares de Saúde do Campo para compartilhar saberes, promover, preservar, afinal, saúde se conquista com luta e popular e só povo é quem cuida do povo!
Por fim, ao celebrarmos a importante conquista de mais uma grande turma de Agentes formados, reforçamos todo o empenho, cuidado e compromisso do MST-PB em forjar no seio da luta popular cuidadores e cuidadoras do povo Paraibano!
*Direção estadual do MST-PB.
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Edição: Carolina Ferreira