A quem interessa o enfraquecimento da amamentação?
Por Michaella Araújo Farias*
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o leite materno deve ser o único alimento do bebê até os seis meses de vida, no entanto, a licença-maternidade vigente no Brasil é de 120 dias. Até o sexto mês, a mãe trabalhadora tem direito a dois descansos, por dia, de 30 minutos cada um. A esmagadora maioria das instituições não tem espaços adequados para amparar a mãe estudante que é lactante, esse é só um exemplo da falta de assistência institucional às mães.
Quantas pessoas são necessárias para favorecer a amamentação? Podemos afirmar que uma sociedade inteira.
Há um ditado africano que diz “é preciso uma aldeia toda para cuidar de uma criança”. E quantas pessoas são necessárias para favorecer a amamentação? Podemos afirmar que uma sociedade inteira. Se você está amamentando, já amamentou ou já conversou com uma nutriz sobre isso já deve ter ouvido sobre os prazeres e desprazeres que envolvem o lactar.
Entre os inúmeros mitos sobre o aleitamento se ouve “o leite fraco”, “ insuficiente”, “ o que não sacia a criança”, “o que virou água”, “para voltar ao trabalho precisa desmamar”, “amamentar faz os seios caírem” entre outras afirmações que não têm nenhuma base científica. Muitas vezes esses mitos chegam à nutriz por pessoas próximas a ela, o que muitas vezes aumenta a sua insegurança e a pressão para a inserção da fórmula, do leite ou de outras fontes de nutrição. “Enfraquecer o leite, a amamentação e desvalorizar o trabalho do cuidado é também enfraquecer a mãe”, disse Geysiane Felipe, da Coletiva Pachamamá.
A quem interessa o enfraquecimento da amamentação, em uma cultura em que há nas prateleiras do supermercado um composto lácteo, que se deu o nome de leite, para cada fase? A uma indústria que investe milhões em propagandas que associam o consumo desses e de toda uma linha alimentícia à uma criança que cresce forte e à uma boa mãe que garante isso feliz enquanto mexe o mingau ou um copo de leite para sua prole?
A amamentação não é algo inerente à mulher
Ao contrário do que diz o senso comum, a amamentação não é algo inerente à mulher, realizada de maneira fácil, ela é resultado de uma cultura, de um contexto histórico e social, os quais refletem-se na construção de visões e práticas sociais cotidianas.
De que maneira temos lutado pela vida? Amamentar faz bem para a lactante, faz bem lactente. É preciso, primeiramente, de uma rede de apoio que acolha o momento em que a vida está sendo nutrida, além de proteção do Estado para que a pessoa que chega ao mundo tenha plenas condições não só de nascimento, mas de pleno desenvolvimento. Não basta ser pro-nascimento, é preciso ser pró-vida.
*Michaella Araújo Farias é mulher, mãe, professora, articuladora e integrante da Coletiva Pachamamá. É autora de materiais didáticos e poetisa nas horas em que divaga . Vê no escrever um subterfúgio, uma fuga do silenciamento e um portal para criação de outras realidades.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato PB.
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Edição: Carolina Ferreira