Paraíba

LUTA CAMPESINA

Livro com depoimentos das Ligas Camponesas celebra a memória histórica da luta na Paraíba

Lançamento do livro ‘Memória Camponesa: as Ligas Camponesas na Paraíba’ ocorre nesta sexta (6), no auditório da FCJA

João Pessoa - PB |
Reprodução - Card Reprodução
Então, companheiros, para se descobrir, dois ou três dias depois os jornais
publicaram a foto de dois corpos mortos perto de Campina Grande, com a cabeça
toda esfacelada. Não dava para ninguém reconhecer. Era 10 de setembro. E
Antônio Bolinha, disse: ‘Esse calção é de Pedro’. Era o calção que Pedro usava
na prisão. Então, nós ficamos naquela desconfiança, se de fato aqueles corpos
eram de João Alfredo e de Pedro Fazendeiro. De fato eram. Quer dizer, tiraram
eles do quartel, num sábado, à noite – nos quartéis não existe nada funcionado
nos sábados – e no dia 07 de setembro, à noite, disseram que tinham sido soltos.
Então, esses dois companheiros foram os dois únicos brasileiros que desapareceram e
até hoje a família está aqui e desconfia, mas não sabe e nunca conseguiram os restos mortais dos dois. - trecho do Pronunciamento de Francisco de Assis Lemos.

O Memorial das Ligas Camponesas e o Comitê Paraibano Memória, Verdade e Justiça promovem, na próxima sexta (6), o lançamento do livro ‘Memória Camponesa: as Ligas Camponesas na Paraíba’. O evento acontecerá às 10h, no auditório da Fundação Casa de José Américo (FCJA), no bairro Cabo Branco, em João Pessoa.

A data do lançamento é simbólica, ocorrendo na véspera do desaparecimento do líder camponês Pedro Fazendeiro, um dos ícones da luta camponesa na Paraíba. A obra reúne depoimentos de camponeses, lideranças dos trabalhadores rurais, dirigentes sindicais, jornalistas, estudantes, políticos e profissionais liberais que apoiaram a luta do povo brasileiro no início da década de 1960.

Antes da Liga, a gente trabalhava no regime de escravo, a gente não tinha direito, a gente só tinha direito a trabalhar e a sobrevivência era muito pouca, era o tipo mesmo de escravo. Depois da Liga, foi que trouxe toda liberdade para a gente. Antes da Liga a gente morava em casa de palha, fraca e hoje, graças a Deus, foi a Liga Camponesa que trouxe a casa de tijolo onde a gente mora, com energia, com televisão. Tudo a gente tem, com água encanada, açude, fruta, verdura, graças a Deus de tudo a gente tem hoje, tem o leite, tem tudo, graças primeiramente a Jesus e segundo à Liga Camponesa, pois foi quem trouxe toda a liberdade para o homem do campo. É o que eu tenho a dizer - Pronunciamento do Senhor José Arnóbio

Resultado de um seminário realizado em 2006 no Teatro Santa Roza, o livro é uma produção coletiva dos professores e pesquisadores Ivan Targino, Marilda Menezes, Emília Moreira, Genaro Ieno, Waldir Porfírio e Belarmino Mariano. Além do Memorial da Democracia da Paraíba e da FCJA, a publicação também conta com o apoio da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). A partir desse seminário, o relatório original foi transformado em um livro que reúne depoimentos de lideranças camponesas que participaram das Ligas Camponesas, muitas das quais ainda estavam vivas na época. O livro também inclui depoimentos de familiares de Pedro Fazendeiro, Elizabeth Teixeira, Nego Fuba, e de vários homens e mulheres camponeses que participaram do seminário.


Reprodução / Card Reprodução

Segundo Alane Lima, presidenta do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas (MLLC), esses depoimentos, que não haviam sido anteriormente compilados em um formato literário, foram agora lançados como um livro, marcado pela lembrança dos 60 anos do desaparecimento de Pedro Fazendeiro e do impacto significativo que ele teve na luta camponesa. O livro tem uma importância histórica crucial pois resgata as memórias de pessoas que vivenciaram as lutas no campo durante as décadas de 1950 e 1960, oferecendo uma perspectiva teórica e pessoal a partir dos relatos daqueles que viveram essa realidade.

Detalhes da Obra

O livro inclui pronunciamentos de figuras importantes como a Professora Marilda Menezes e o Dr. Francisco de Assis Lemos, que marcaram a abertura do seminário que deu origem à obra. Ele destaca as Ligas Camponesas em Sapé e outros locais na Paraíba, apresentando depoimentos valiosos de Elizabeth Teixeira e outros participantes. Além disso, traz relatos de advogados, intelectuais, estudantes e membros da imprensa que estiveram presentes na luta das Ligas Camponesas, abordando também as experiências em Guarabira e Mamanguape.

O texto explora a contribuição de médicos, políticos e sindicatos, além de depoimentos de diversas lideranças locais sobre as Ligas em outras regiões, como Santa Rita, Espírito Santo, Alhandra, Mulungu e Campina Grande. Questões cruciais como o uso de armas, as eleições e o papel das mulheres nas Ligas também são abordadas, com destaque para os depoimentos de Ofélia Amorim e Assis Lemos.

O livro se encerra com homenagens às lideranças camponesas do passado e do presente, e inclui apêndices e anexos que fornecem biografias, bibliografias, estatutos e outros documentos históricos, enriquecendo o entendimento do leitor sobre o impacto e a relevância das Ligas Camponesas na história da Paraíba e do Brasil.

Começou através das reuniões. Era sempre aos domingos, à tarde, quando o povo se reunia e aquele pessoal que ia dar as reuniões, eles começavam a conscientizar aquele povo que realmente nada tinha, aquele povo que era sofrido. Por justa razão, lá no Carrasco, houve famí- lias que vieram até de outras cidades, por exemplo, de Araçagi -  Depoimento do Senhor Manoel Marinho

::O livro pode ser acessado gratuitamente pelo link
 

Importância política e econômica do lançamento 

Para Alane Lima, o lançamento deste livro é um marco importante para a memória camponesa: “A publicação transforma aquelas vivências em materiais de leitura acessíveis, preservando a memória dos lutadores e lutadoras que enfrentaram perseguições enquanto lutavam por terra e dignidade no campo. Muitos desses camponeses foram perseguidos, torturados e até mortos, e o livro materializa esses momentos de resistência e luta”, destaca ela.

"Além de fortalecer a memória das pessoas que participaram desse período histórico, o livro também é uma ferramenta educacional valiosa para as novas gerações que não vivenciaram esses eventos. Através dos depoimentos e da organização realizada pelo Memorial das Ligas, o Comitê por Memória, Verdade e Justiça, e o Comitê de Mortos e Desaparecidos Políticos, esse material chega às novas gerações, permitindo que elas tenham um entendimento mínimo sobre a realidade das Ligas Camponesas e a vida no campo nas décadas de 1950 e 1960", cocnlui ela.

Alane complementa que o lançamento em João Pessoa será um momento significativo para todos que desejam entender mais sobre esse contexto histórico, oferecendo uma oportunidade para refletir sobre essas memórias tão importantes e, ao mesmo tempo, tão pouco documentadas.  

O livro pode ser acessado gratuitamente por este link


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Edição: Cida Alves