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Eleições mornas: quando a política perde o fervor

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"Onde foram parar as carreatas, comícios e passeatas?" - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Esta campanha desbotada só beneficia quem já está no poder, quem tem mandato

Por Joel Martins Cavalcante*

Hoje é domingo. Um dia desses, enquanto caminhava pela calçada até a academia no Cristo, o sol da manhã brilhava, mas não aquecia a campanha eleitoral em João Pessoa. Morna, é o mínimo que posso dizer. São cinco candidatos a prefeito (eram seis, mas um teve o registro indeferido), quatro com direito ao guia eleitoral e participação nos debates (Luciano Cartaxo, Ruy Carneiro, Cícero Lucena e Marcelo Queiroga). A legislação garante espaço na propaganda de rádio e TV, mas, mesmo assim, é como se ninguém estivesse prestando muita atenção. Os sinais de engajamento, que outrora marcavam essa época, parecem estar adormecidos.

Quando entrei na academia, mal comecei a aquecer e já me deparei com uma conversa que ilustrava bem esse desinteresse. Dois senhores, nos seus 50 ou 60 anos, discutiam o cenário político, mas não o daqui. Falavam de São Paulo. Comentavam sobre o candidato Pablo Marçal, mencionando que ele poderia ser o novo líder da direita, até passando o ex-presidente Bolsonaro. Senti uma leve surpresa ao ouvir esse nome sendo tratado com tanta importância por aqui, e não pude evitar pensar no quanto os pessoenses estão mais preocupados com o que acontece a centenas de quilômetros de distância, mas desinteressados com a realidade local.

Lembro que antes as ruas fervilhavam de movimentos políticos, mas agora mal se ouve o som de uma buzina anunciando apoio a algum candidato. 

Continuei minha série para as costas, mas a conversa ficava ecoando na minha mente. E não era só aquela. Há alguns dias, em um papo com amigos num bar no Castelo Branco, percebemos como a disputa eleitoral deste ano não tem a cara de disputa. Onde foram parar as carreatas, comícios e passeatas? Lembro que antes as ruas fervilhavam de movimentos políticos, mas agora mal se ouve o som de uma buzina anunciando apoio a algum candidato. O guia eleitoral, então, resumido a míseros dez minutos, pouco permite que se preste atenção nas propostas. Quem liga a TV no horário político não tem tempo de digerir as ideias apresentadas.

Esta campanha desbotada só beneficia quem já está no poder, quem tem mandato. Afinal, quem está na máquina pública já tem vantagem nesse tipo de cenário, e a oposição perde espaço para fazer-se opção com viabilidade, enquanto a renovação no parlamento e na prefeitura parece cada vez mais improvável. O eleitor, por sua vez, fica num marasmo de desinteresse, absorvendo pouca coisa — quando absorve.

O cenário da capital paraibana, tão apático, contrasta com o interior. Pelas redes sociais, vejo fotos e vídeos de cidades pequenas e médias onde a coisa pega fogo. Em Alagoinha, por exemplo, minha terra natal, a coisa tá intensa. Quase todos os dias tem movimento. Ali, os candidatos conseguem mobilizar as emoções das pessoas, e com razão. Nessas localidades, a prefeitura é a maior empregadora, e isso, por si só, já é suficiente para engajar boa parte da população. Recentemente, o Tribunal de Contas divulgou números absurdos de contratados, com 36 cidades onde o número de servidores temporários ultrapassa 100% do efetivo¹.

Com uma campanha que parece um período sem campanha, fica difícil sentir qualquer fervor político.

Aqui em João Pessoa, é verdade que há uma quantidade significativa de contratos, tanto na prefeitura quanto no governo do estado, mas mesmo assim, a apatia reina. Não sei se é cansaço, desilusão ou falta de novidade. Só sei que, com uma campanha que parece um período sem campanha, fica difícil sentir qualquer fervor político. E eu, assim como muitos, sigo com a sensação de que o calendário eleitoral passa, mas não deixa marcas. 6 de outubro é logo ali.

Notas 

¹ TCE-PB divulga número de servidores contratados nos municípios do Estado e alerta para excesso de temporários

*Joel Martins Cavalcante é professor de História da rede estadual de ensino da Paraíba, membro da diretoria do SINTEP-PB e CUT-PB e militante dos Direitos Humanos e do Movimento Brasil Popular.

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Edição: Carolina Ferreira