Cerca de três toneladas de sementes de feijão crioulo, conhecidas na Paraíba como Sementes da Paixão, serão entregues à rede de bancos comunitários do território do Polo da Borborema nesta quinta-feira (26). A ação ocorrerá a partir das 9h, na sede da CoopBorborema, localizada no Sítio Quicé, em Lagoa Seca, onde funciona o Banco Mãe de Sementes. Ação é fundamental para a produção de alimentos saudáveis na região.
A distribuição das sementes reforçará os estoques dos bancos comunitários, aumentando a autonomia das famílias agricultoras, que não precisarão esperar a entrega das sementes distribuídas pelo governo do estado. Além disso, espera-se um aumento na oferta do grão, a partir do próximo ano, nas 12 feiras agroecológicas e nas cinco Quitandas da Borborema.
As famílias organizadas no Polo da Borborema comercializam produtos sob a marca “Do Roçado”, que inclui feijão, fava, farinha de mandioca e diversos alimentos beneficiados, como bolos, polpas de frutas e doces.
Serão distribuídas seis variedades de feijão: preto, carioca, rosinha, mulatinho, gordo branco e faveta, que atenderão 40 bancos comunitários de cinco municípios: Solânea, Casserengue, Remígio, Queimadas e Esperança, beneficiando diretamente cerca de 200 famílias agricultoras.
Uma parte das Sementes da Paixão será destinada a sindicatos rurais ou conselhos municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável dos municípios que executam programas de sementes crioulas, como Lagoa Seca, Montadas e Alagoa Nova.
As sementes foram adquiridas pela CoopBorborema junto a 14 famílias guardiãs de Montadas, Arara e Areial. Criada em 2021, a CoopBorborema reúne famílias agricultoras envolvidas com as ações do Polo da Borborema, que é um coletivo que envolve 14 municípios, 13 sindicatos rurais e cerca de 150 associações comunitárias, contando com a assessoria política e técnica da ONG AS-PTA.
PAA Sementes
Os recursos que possibilitaram a compra das sementes vieram do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), na modalidade Sementes, gerenciado pela Companhia Nacional de Abastecimento Alimentar (CONAB), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA). Ao todo, foram compradas oito toneladas de sementes crioulas, com um investimento total de R$ 113 milhões. A entrega de quinta-feira será a primeira de uma série, com a próxima prevista para o final de outubro ou início de novembro, dependendo da safra de milho e fava no território.
Antes da compra, as sementes foram submetidas a testes de germinação, vigor, pureza e umidade, realizados no Laboratório de Sementes do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, campus de Areia. “Esses testes são exigidos pela CONAB para garantir a qualidade das sementes tanto para o plantio quanto para o armazenamento, já que elas ficarão estocadas até o início do inverno de 2025, que na região começa em março”, comenta Emanoel.
A aquisição de sementes por meio dessa política pública é crucial para o território, onde as famílias agricultoras estão organizadas na Rede de Bancos Comunitários de Sementes, visando preservar e multiplicar este patrimônio genético. A última vez que o Polo da Borborema acionou o PAA Sementes foi em 2011. Desde então, as exigências burocráticas dificultaram sua execução, e o programa chegou a ser extinto pelo governo Bolsonaro em 2016.
Luciano Silveira, da AS-PTA, ressalta: “Essa política é extremamente importante para a promoção da segurança alimentar, pois fortalece as estratégias locais de manejo e conservação da agrobiodiversidade, estimulando as capacidades das organizações da agricultura familiar de conservar seu patrimônio genético. Isso gera resultados econômicos positivos para as famílias rurais e para os territórios do Semiárido.”
Vantagens das Sementes Crioulas
A distribuição de sementes crioulas no território é uma demanda antiga da Rede de Sementes do Polo da Borborema e da ASA Paraíba. A ASA é uma articulação que envolve organizações da sociedade civil atuantes em sete territórios do Semiárido paraibano.
Essas sementes são adaptadas às características do ambiente, como regime de chuvas, temperatura e solo, proporcionando uma boa capacidade de germinação, mesmo em situações de estresse hídrico, comuns nas secas extremas que a região enfrenta. Além disso, as variedades locais atendem a necessidades que vão além do consumo humano, gerando bioinsumos para ração animal, que também precisa ser estocada para o verão.
Por outro lado, as sementes distribuídas pelo governo são variedades produzidas em outras regiões do Brasil, comercializadas por empresas, e que nem sempre apresentam a mesma resistência e adaptação das sementes crioulas, colocando em risco a diversidade das variedades locais mantidas pelas famílias guardiãs.
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Edição: Cida Alves