Paraíba

Coluna

Uma conversa sobre amor e liberdade com FHC

Imagem de perfil do Colunistaesd
"Talvez o sonho com o FHC tenha sido fruto dessa conversa sobre o Tinder na celebração amorosa dos amigos e ansiedade em decorrência da eleição municipal." (Joel Martins Cavalcante). - Montagem: Carol Borges/BdF-PB
Esse papo sobre liberdade com FHC no sonho me fez refletir sobre minhas escolhas políticas

Por Joel Martins Cavalcante*

Sonhei com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o FHC. Não é todo dia que a gente sonha com um ex-presidente. No sonho, eu estava comprando um livro dele. Pedi que autografasse a obra e, do nada, como coisa que só acontece em momentos oníricos, começamos a conversar. De repente, estávamos deitados no chão de uma livraria, algo que nunca imaginei fazer com um ex-presidente. Falamos sobre privatizações e liberdades. 

O tucano quando governou o país por oito anos adotou a agenda neoliberal e, em nome da liberdade e da modernização, privatizou muitas empresas públicas. Eu critiquei aquilo (mais uma coisa que só acontece nos sonhos) e disse: "A liberdade no capitalismo não existe. Só tem liberdade quem tem dinheiro." Ele me olhou, com aquele jeito intelectual, e eu senti que ia rolar um debate. 

FHC, em resposta, disse que todos possuem a liberdade de escolher o parceiro ou parceira amorosa. Concordei com ele, faz sentido, né? Mas depois, o sonho ficou mais estranho. E aí eu falei que, mesmo essa liberdade de escolher quem amar, às vezes, não é tão simples assim. Eu mesmo já tive alguns relacionamentos que não deram certo por causa da distância. Namorados que moravam longe, e a falta de grana para as viagens acabou atrapalhando tudo. Lembro que até inventei um termo pra isso no sonho, mas, sabe como é, acordei sem lembrar (triste isso).

O mais louco é que, até onde sei, nunca sonhei com o FHC antes. Talvez o sonho tenha vindo dessas memórias antigas que tenho do governo dele. Lembro-me das passeatas contra as privatizações, das reportagens na TV falando sobre a fome, das manifestações contra a ALCA e o FMI. Naquela época, eu era um estudante do ensino fundamental, e quando o mandato dele estava no fim, eu já estava no ensino médio. Ah, 2002… Me lembro bem daquele ano, principalmente, porque eu, que era evangélico e membro da Igreja Universal, torcia para Garotinho ser presidente. Mesmo a igreja apoiando o Lula, minha fé falava mais alto. No segundo turno, entre Lula e Serra, acabei torcendo para o petista, mas nem votei, já que tinha só 15 anos.

Acabo sempre optando por candidatos que têm compromisso com o Estado e com as políticas públicas. Não consigo me alinhar com quem acha que privatizar tudo é a solução. 

E agora, aqui estou eu, lembrando do sonho. Engraçado como esse papo sobre liberdade com FHC no sonho me fez refletir sobre minhas escolhas políticas. Acabo sempre optando por candidatos que têm compromisso com o Estado e com as políticas públicas. Não consigo me alinhar com quem acha que privatizar tudo é a solução. Como ouvi uma vez de Ricardo Coutinho, ex-governador da Paraíba, citando uma frase que ele viu em algum lugar: "Quando tudo for privatizado, você será privado de tudo." 

Hoje, com essas redes sociais e aplicativos de relacionamento, até o amor parece depender de quanto dinheiro você tem. Estava conversando com um amigo sobre isso no casamento de um casal querido em Campina Grande. Perguntei se ele já tinha assinado o Tinder, e ele me contou que a versão paga tem várias funções extras. O mesmo acontece no Grindr e em outros apps de encontro. Fico pensando: até a liberdade de escolha amorosa depende do capital.

No fim das contas, talvez o sonho com o FHC tenha sido fruto dessa conversa sobre o Tinder na celebração amorosa dos amigos e ansiedade em decorrência da eleição municipal. Hoje é dia de votar. Quando essa crônica for publicada, provavelmente, estarei trabalhando como mesário no campus da UEPB em João Pessoa. No final do dia, aguardar o resultado, comemorar ou chorar, dentro das limitações da liberdade que a democracia capitalista permite.

*Joel Martins Cavalcante é professor de História da rede estadual de ensino da Paraíba, membro da diretoria do SINTEP-PB e CUT-PB e militante dos Direitos Humanos e do Movimento Brasil Popular.

**A opinião contida neste texto não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Paraíba

Apoie a comunicação popular, contribua com a Redação Paula Oliveira Adissi do jornal Brasil de Fato PB
Dados Bancários
Banco do Brasil - Agência: 1619-5 / Conta: 61082-8
Nome: ASSOC DE COOP EDUC POP PB
Chave Pix - 40705206000131 (CNPJ)

Edição: Carolina Ferreira