Funcionários do Instituto Nacional do Semiárido (INSA) têm manifestado insatisfação com a demora na nomeação de um novo diretor, denunciando a atual gestora, Mônica Tejo, por criar um ambiente de trabalho repleto de tensão e perseguição. Segundo uma nota anônima enviada por funcionários e pesquisadores, a substituição da gestora deveria ter ocorrido há mais de seis meses. A lista tríplice com os candidatos já foi enviada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), mas a nomeação do novo diretor ainda não foi efetivada, prolongando o prazo estipulado.
Mônica Tejo foi nomeada durante o governo de Jair Bolsonaro em 2020, embora não fosse a primeira colocada na lista tríplice, prática que ocorreu de forma semelhante em universidades e institutos federais. Bolsonaro, contrariando a tradição de nomear o candidato mais votado, escolheu pessoas com afinidades ideológicas e políticas. No caso da gestora do INSA, sua nomeação pelo MCTI seguiu a mesma lógica.
Os funcionários, que preferem não se identificar, relatam uma série de problemas com a gestora, tanto no ambiente de trabalho quanto em questões pessoais. Eles acusam Mônica Tejo de usar processos judiciais como forma de resolver os conflitos do cotidiano, o que configuraria assédio moral e "correção simbólica".
Um dos casos citados foi levado à Polícia Federal, onde a gestora acusou uma funcionária de perseguição e assédio. No entanto, o processo foi arquivado por falta de provas. Outros processos, segundo os funcionários, tramitaram na corregedoria do MCTI, mas também não apresentaram evidências concretas.
"Eu vejo essa atitude da gestora como assédio processual, quando se usa de ações jurídicas para intimidar e coibir os funcionários. Isso faz com que muitos tenham medo de falar", comenta o funcionário e pesquisador M.R.
O instituto, que tem suas raízes ligadas a grandes nomes como Ariano Suassuna, Miguel Arraes e Celso Furtado, foi idealizado para promover o desenvolvimento do Semiárido brasileiro. Agora, no entanto, os funcionários lamentam que o INSA esteja sendo gerido por um grupo possivelmente alinhado ao bolsonarismo em Campina Grande, o que, segundo eles, vai contra os princípios de pesquisa e inovação para a região.
Desde a nomeação de Mônica Tejo em 2020, diversos pesquisadores se afastaram do instituto, incapazes de suportar o tratamento rude e as grosserias da gestora.
Além disso, relatos apontam que, além dos servidores efetivos, funcionários terceirizados e da área administrativa também teriam sido vítimas de assédio.
O mandato de Mônica terminou no início de fevereiro, e os funcionários esperam que a ministra do MCTI, Luciana Santos, agilize o processo de substituição, de modo a restabelecer o clima intelectual e produtivo que antes prevalecia no INSA. Até o momento, o novo diretor, que já foi escolhido, ainda não foi nomeado.
Depoimentos de funcionários e pesquisadores
Desde que a atual gestora assumiu, já foram realizados cerca de 15 processos/denúncias, a maioria na corregedoria do ministério, e por fim, uma delas foi levada até a Polícia Federal.
Uma das fosntes conta que sofreu esta denúncia na Polícia Federal, onde foi acusada de assédio e perseguição, e que estaria fotografando o laboratório da gestora e os equipamentos públicos na universidade.
"Tudo isso foi extremamente constrangedor e desmotivador para mim. Eu não recebo nenhum apoio, embora a diretoria tenha a obrigação de apoiar minha pesquisa. Qualquer solicitação que eu faço demora dias, até meses, e preciso justificar diversas vezes para conseguir o que é necessário”, relata a pesquisadora P.S.
A Polícia Federal arquivou o processo por falta de provas, conforme relatado pela própria polícia, que também destacou o clima de "conflito e desentendimento" na instituição.
Os funcionários do INSA afirmam que a corregedoria do MCTI não tem agido de maneira eficaz para resolver os problemas e que, apesar de as queixas terem sido encaminhadas ao Ministério, não houve resposta até o momento.
“Ela (a gestora) faz denúncias sem qualquer evidência ou materialidade. Isso vem dela e de algumas pessoas associadas a ela no ambiente de trabalho, o que cria um clima muito ruim, levando à desistência e desmotivação. Em vez de me concentrar em minha pesquisa e produzir ciência, eu passo boa parte do meu tempo respondendo a processos. Essa situação me trouxe problemas emocionais, inclusive síndrome do pânico. Agora, toda vez que abro meus e-mails, fico nervosa e tensa”. conta a pesquisadora P.S
Ela acrescenta que já viu diversas vezes a gestora gritando pelos corredores, batendo forte nas portas. “Vários colegas já pediram afastamento, entre 7 a 8 pessoas deixaram a instituição porque não suportavam mais. Perdemos profissionais críticos e pesquisadores excelentes, servidores públicos que se afastaram porque não conseguiram lidar com essa situação", complementa ela
Outro pesquisador foi alvo de um processo por difamação, no qual foi acusado de furtar equipamentos laboratoriais, apesar de ser o coordenador do espaço. O mesmo pesquisador entrou com uma ação civil no Ministério Público, mas o processo foi arquivado em 2021.
Leia a nota enviada para a Redação do BdFPB
Contexto da Urgência na Nomeação do Novo Diretor do INSA
Este texto ilustra a atual situação de gestão do Instituto Nacional do Semiárido (INSA). Há algum tempo, parte do corpo funcional desta Unidade de Pesquisa tem enfrentado constrangimentos e desafios que demandam uma atenção mais cuidadosa por parte do MCTI.
Desde o início da gestão atual, em 2020, instaurou-se um ambiente administrativo marcado por perseguição ideológica, práticas insustentáveis e um clima de tensão contínua. Mais da metade dos servidores da área finalística foi envolvida em processos acusatórios baseados em denúncias infundadas, inclusive com repercussões na Polícia Federal. Em parecer, a Polícia Federal destacou que "[...] de fato existe uma situação de tensão elevada e desinteligência na unidade de pesquisa [...]".
Além deste episódio, a gestão atual se caracteriza por outros problemas, como a falta de transparência nas ações administrativas, assédio moral contra servidores, empregados públicos e terceirizados, abuso de poder, e ausência de diálogo, além do desrespeito pela competência de alguns pesquisadores.
É inaceitável que o MCTI continue a permitir a manutenção desse modelo de gestão, que já provou ser prejudicial para o bom funcionamento do INSA. Já perdemos importantes pesquisadores, que, vítimas de perseguição, afastaram-se do Instituto, comprometendo a produção científica e o impacto do INSA.
Instituto Nacional do Semiárido
O alcance do INSA engloba uma região habitada por cerca de 28 milhões de pessoas em 10 estados, sendo um dos semiáridos mais densamente povoados do planeta.
O Instituto Nacional do Semiárido (Insa) é uma instituição de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), localizada em Campina Grande - PB. Seu projeto arquitetônico simboliza a forma de uma mão, representando trabalho, fraternidade e ajuda mútua. O Instituto se inspira no pensamento do economista Celso Furtado, e seu busto em bronze se encontra na praça central do Instituto, evidenciando a conexão com seu legado para o desenvolvimento social e econômico do Nordeste.
Concursos adiados
Em 2023, o MCTI anunciou a abertura de um concurso público para preencher vagas no Instituto, incluindo cargos de pesquisador e tecnologista. No entanto, a diretoria da instituição não apresentou a proposta de edital no prazo estipulado, adiando o processo. Atualmente, o INSA conta com apenas dois pesquisadores e cinco tecnologistas efetivos, com outros bolsistas atuando temporariamente.
A redação do BdFPB enviou um pedido ao Ministério da Comunicação, Ciência e Tecnologia há cerca de uma semana para obter seu posicionamento, mas até o fechamento desta edição, não recebemos nenhuma resposta.
Obs.: Decidimos preservar o sigilo de todas as fontes ouvidas para esta matéria, incluindo as pessoas que assinam a nota publicada no texto.
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Edição: Cida Alves