Em sua primeira viagem ao exterior como Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio assinou, na segunda-feira (3), um acordo com o presidente de El Salvador Nayib Bukele para deportar migrantes indocumentados de qualquer nacionalidade ao país.
Rubio descreveu os acordos alcançados como “um ato de extraordinária amizade” em relação aos Estados Unidos. “El Salvador aceitou o acordo migratório mais extraordinário e sem precedentes em qualquer parte do mundo”, afirmou.
O país continuará a aceitar a deportação de salvadorenhos que “entraram ilegalmente nos EUA” e também “aceitará a deportação de qualquer estrangeiro ilegal nos Estados Unidos que seja criminoso, independentemente de sua nacionalidade, seja da MS-13 ou do Tren de Aragua, e os abrigará em suas prisões”.
Bukele, um dos principais aliados de Trump na América Latina e no Caribe, afirmou à imprensa estadunidense que os Estados Unidos são o “parceiro mais importante” de El Salvador. O mandatário salvadorenho também destacou sua estreita sintonia com o presidente dos EUA, assegurando que “não escondemos nossa simpatia por Trump”.
Por meio de sua conta no X, Bukele afirmou que seu governo ofereceu aos Estados Unidos “a oportunidade de externalizar parte de seu sistema penitenciário”, abrigando prisioneiros no Centro de Confinamento do Terrorismo (CECOT), uma megaprisão de segurança máxima com capacidade para 40 mil detentos, inaugurada em 2022.
“Estamos dispostos a admitir apenas criminosos condenados, incluindo cidadãos estadunidenses, em nossa megaprisão (CECOT) em troca de uma taxa. A taxa seria relativamente baixa para os EUA, mas significativa para nós e tornaria todo o nosso sistema prisional sustentável”, declarou.
Acordo nuclear
Durante a visita, os dois países também assinaram um acordo de cooperação em energia nuclear, denominado Memorando de Entendimento sobre Cooperação Estratégica Nuclear Civil (NCMOU). Segundo o Departamento de Estado dos EUA, o acordo visa “promover a cooperação nuclear pacífica”.
Por sua vez, a chanceler salvadorenha, Alexandra Hill Tinoco, que assinou o acordo em nome de El Salvador, afirmou que a iniciativa faz parte de “mais uma estratégia” do presidente Bukele para "fornecer energia 24 horas por dia a um preço competitivo, sem depender da geopolítica ou dos preços do petróleo”.
Rubio referiu-se ao pacto como o primeiro acordo assinado por ele como secretário de Estado, destacando que os EUA buscam tornar El Salvador um lugar “onde todas as tecnologias, todas as indústrias e todas as promessas deste novo século possam se encontrar”.
Assinatura de acordos entre Alexandra Hill Tinoco e Marco Rubio / Embaixada dos EUA em El Salvador
Uma oferta “incrível”
A oferta de Bukele foi elogiada e descrita como “incrível” por Rubio durante sua chegada à Costa Rica na terça-feira (4), em uma coletiva de imprensa conjunta com o presidente Rodrigo Chaves Robles. O senador garantiu que o governo dos EUA “estudará” a proposta de Bukele e que, no final, “terá que tomar uma decisão”.
“Ninguém jamais fez uma oferta como esta: terceirizar, por uma fração do custo, pelo menos alguns dos criminosos mais perigosos e violentos que temos nos Estados Unidos”, disse o secretário. Embora tenha reconhecido que “há questões legais envolvidas”, ele minimizou os aspectos jurídicos do acordo, descrevendo a proposta de Bukele como “muito generosa”.
Elogios a Bukele e a crise de segurança na Costa Rica
Os elogios de Rubio a Bukele em San José, capital da Costa Rica, fazem parte de um gesto político significativo no contexto interno do país centro-americano, que enfrenta uma crise de segurança agravada nos últimos anos.
Em 2023, a Costa Rica atingiu um recorde histórico na taxa de homicídios, dobrando os números de uma década atrás. Rodrigo Chaves Robles tem buscado estreitar relações políticas com Nayib Bukele, a quem apresenta como um modelo a ser seguido em matéria de segurança.
Em meados de novembro do ano passado, Bukele fez uma breve visita oficial à Costa Rica, onde foi recebido por Chaves para discutir segurança, comércio e cooperação bilateral. Durante a estadia, os dois presidentes realizaram uma “visita de trabalho” ao Centro Penitenciário La Reforma, uma das principais prisões do país, de onde realizaram uma coletiva de imprensa conjunta. Na ocasião, anunciaram a intenção de criar uma “Liga das Nações” para reunir países com posições políticas semelhantes, para “garantir a segurança” e “buscar a prosperidade”. Embora a iniciativa não tenha prosperado, ela representa uma tentativa de unir diferentes forças políticas, principalmente da América Central e do Caribe.
Como um sinal simbólico da importância estratégica que Chaves atribui a essa aproximação, durante a visita, o presidente salvadorenho foi condecorado com a Gran Cruz Placa de Oro, a mais alta distinção que a Costa Rica concede a chefes de Estado.
Cuba, Nicarágua e Venezuela: 'inimigos da humanidade'
A coletiva de imprensa também foi aproveitada por Rubio para apontar Cuba, Nicarágua e Venezuela como os supostos “causadores da crise migratória” que afeta o hemisfério, classificando-os como “inimigos da humanidade”.
“Esses três regimes — Nicarágua, Venezuela e Cuba — são inimigos da humanidade e criaram uma crise migratória. Se não fossem por eles, não haveria uma crise migratória no hemisfério, já que são países onde seus sistemas não funcionam”, afirmou o chefe do Departamento de Estado dos EUA, que, ao longo de sua carreira, fez do ataque a esses países um eixo central de suas políticas.
Rubio também destacou que, na Costa Rica, “há mais norte-americanos vivendo do que costarriquenhos nos Estados Unidos, o que é um exemplo do que acontece quando um país faz as coisas bem, em contraste com esses outros países”.
Essas declarações ocorreram após Richard Grenell, enviado especial de Donald Trump para a Venezuela, reunir-se com o presidente Nicolás Maduro para restabelecer conversações com Caracas.
Edição: Nathallia Fonseca
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