“Nós não queremos que o nosso lixo seja jogado em Fazenda Rio Grande. O contrato encerrou e precisa ser totalmente revisto, incluindo os catadores e as catadoras de recicláveis”. A frase é da vereadora Vanda de Assis (PT), uma das proponentes da audiência pública “Gestão de Resíduos Sólidos e Licitação de Limpeza Urbana”, que aconteceu na Câmara Municipal de Curitiba nesta quinta-feira (13). O encontro também contou com as presenças das vereadoras Camilla Gonda (PSB), Laís Leão (PDT), Giorgia Prates (PT), Prof Ângela (Psol) e dos deputados estadual Goura e federal Tadeu Veneri, além de catadores de recicláveis e pessoas que pensam sobre o futuro do lixo e da reciclagem em Curitiba.
O contrato com a Estre Ambiental SA e a Prefeitura de Curitiba se encerrou e a discussão sobre a destinação do lixo da capital, depositado em Fazenda Rio Grande, vive um impasse. Recentemente, o prefeito Eduardo Pimentel (PSD) propôs desmatar mais de 100 mil metros de mata atlântica no local. No entanto, a audiência pública mostrou que é necessário se pensar em alternativas, principalmente a redução da geração de lixo e a possibilidade de reaproveitar o que é descartado pelos cidadãos. É aí que entram os catadores de recicláveis e as cooperativas.
“Os catadores são responsáveis por 90% da reciclagem no Brasil”, informaram os presentes. Para a vereadora Laís Leão, é um debate urgente que tem que ser feito por diversos entes da sociedade. “Se a gente ficar tomando soluções velhas, o problema vai continuar velho, vai continuar o mesmo, a gente vai ficar apagando fogo o tempo todo. Não é chatice, não é exagero, é urgência. Se a gente não fizer agora, não vai ter 2050 para a gente fazer”, disse, ao incentivar a redução de lixo.
Já Camilla Gonda reforçou que “o trabalho dos catadores e catadoras é fundamental em nosso país e temos que dar a eles reconhecimento a partir do poder público. A gente está acompanhando e vamos trabalhar para valorizar essa categoria. Vamos ouvir antes de fazer”.
Para o deputado federal Tadeu Veneri, a produção e destinação do lixo não é discutida como política de Estado. Já o deputado estadual Goura disse que “o lixo tem que estar na pauta de todos os cidadãos”. Ele reconheceu o trabalho dos recicladores e reforçou: “A gente tem que discutir o novo contrato para que a gente pare de gastar meio bilhão de reais para enterrar lixo”, comentou, enaltecendo a presença de lideranças da Região Metropolitana.
Movimentos apontaram quais problemas enxergam na coleta em Curitiba e região / Carlos Costa/CMC
Sociedade apontou problemas e propôs iniciativas
O debate contou com as participações de Sérgio Suzuki, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e Edélcio Reis, diretor da Secretaria do Meio Ambiente. Reis destacou que Curitiba tem avançado na gestão dos resíduos. Ele ainda comentou os impasses jurídicos na questão do meio ambiente. Outros convidados foram Gabriel Andrade, do Ekoa (UFPR), que falou do descarte do lixo, Carlos Cavalcante, do Movimento Nacional de Catadores, que defendeu a inclusão social dos profissionais, e Lia Santos, da Catamare, que ressaltou o fato de as campanhas não estarem surtindo efeito junto à população.
Em sua intervenção, Flávia Sotto, do Coletivo Lixo Zero, destacou a necessidade de compostagem. Ana Clara, militante do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD), abordou como a cidade exporta seu lixo e apresentou o “Fora Essencis”, grupo de luta contra o lixão da Essencis, localizado no bairro CIC em Curitiba.
Ainda participaram Paulo Bearzoti, do Movimento Por Moradia (MPM), que criticou as sucessivas renovações de contratos e a marginalização da população periférica. Já Rogério Horochovski, do Observatório de Justiça e Conservação, destacou a necessidade de atenção com o Plano Diretor, Transporte e Resíduos. “É hora de agir”, pontuou, criticando o atual modelo curitibano.
A representante de Itaipu, Suelita Rocker, e Verônica Rodrigues, do Coletivo SOS Arthur Bernardes, também marcaram presença. “Curitiba é referência em sustentabilidade porque a régua é muito curta. É preciso se comparar com locais em que a preservação é maior”, direciona Verônica.
Câmara terá frente para tratar do tema
Ao fim do evento, a vereadora Vanda de Assis anunciou que, naquela quinta-feira, protocolou o requerimento de criação da Frente Parlamentar em Defesa da Gestão Sustentável dos Resíduos Sólidos.
Conforme o pedido, o grupo terá o objetivo de acompanhar, fiscalizar e propor políticas públicas de redução, reutilização e reciclagem de resíduos, a valorização dos trabalhadores da coleta seletiva e a garantia de infraestrutura adequada para a gestão sustentável dos resíduos em Curitiba.
Confira a audiência na íntegra em vídeo disponível no YouTube.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Ana Carolina Caldas
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